Mensagens-chave
- Ao criar um serviço internação domiciliar, é importante estabelecer um processo simples para os profissionais de saúde encaminharem os pacientes. Isto inclui a produção de diretrizes claras que definam para quem o serviço é adequado.
- Os serviços de internação domiciliar exigem uma equipe treinada com habilidades para fornecer cuidados centrados no paciente de forma segura e eficaz em casa, com comunicação clara e consistente entre funcionários, pacientes e cuidadores.
- Propomos uma série de perguntas para serem utilizadas por profissionais e gestores de saúde na introdução de novos serviços de internação domiciliar ou que gerenciam serviços existentes. As perguntas têm como objetivo ajudar a planejar e implementar serviços de internação domiciliar e melhorar a satisfação e os desfechos da equipe, pacientes e cuidadores.
O que é internação domiciliar?
A internação domiciliar oferece atendimento hospitalar na casa do paciente, para pessoas que de outra forma estariam hospitalizadas. A internação domiciliar, é uma forma de prevenir a hospitalização. Trata-se de uma internação domiciliar para prevenir hospitalização. Estes serviços substituem a internação hospitalar, para pessoas cuja condição normalmente necessitaria de tratamento em uma cama hospitalar, por exemplo, no caso de uma crise de doença pulmonar. Em vez disso, o médico pode encaminhar um paciente que considere adequado para receber tratamento para uma doença na sua própria casa (ou no local onde habitualmente vive, incluindo cuidados residenciais), por um período limitado. Outro tipo é chamado de internação domiciliar por alta precoce. Estes serviços reduzem o tempo que as pessoas precisam permanecer no hospital após serem internadas, por exemplo, após uma cirurgia ou tratamento de uma doença ou condição. Os cuidados que o paciente normalmente receberiam dos profissionais de saúde em uma cama hospitalar são fornecidos em sua casa, e não se espera que comprometam a qualidade dos cuidados.
O que queríamos saber?
Nosso objetivo foi descobrir o que é importante na introdução, gestão e atendimento dos serviços de internação domiciliar. Queríamos explorar uma série de experiências e percepções sobre os serviços de prevenção de internação e alta precoce. Poderiam incluir aspectos que os gestores desejam saber ao planejar a criação de um serviço de internação domiciliar, opiniões de profissionais de saúde que atuam nesse serviço, questões que são importantes para os pacientes que recebem esse tipo de cuidado ou como a família e os cuidadores vivenciam os serviços de internação domiciliar para aqueles quem cuidam.
O que nós fizemos?
Buscamos estudos que explorassem experiências, atitudes ou crenças sobre os serviços de internação domiciliar do ponto de vista dos pacientes, cuidadores, profissionais de saúde, gestores e financiadores de saúde. Os estudos abordaram os serviços de internação domiciliar existentes e em desenvolvimento, para pessoas com diversas doenças, como acidente vascular cerebral, pneumonia ou pós-operatório. Os estudos utilizaram entrevistas ou sessões de grupo para explorar as opiniões das pessoas envolvidas na prestação ou recepção de serviços de internação domiciliar. Avaliamos e resumimos os resultados de cada um dos estudos. Identificamos descobertas importantes em todos os estudos e, em seguida, avaliamos o quão confiantes estávamos em cada descoberta. Esta confiança dependia, por exemplo, da quantidade de informação relacionada a uma determinada descoberta que tinha sido fornecida nos estudos.
O que nós encontramos?
Encontramos 52 estudos que exploraram serviços de internação domiciliar, incluindo 31 de alta precoce, 16 de prevenção de hospitalização e cinco serviços combinados de alta precoce e prevenção de hospitalização. Estes estudos realizaram entrevistas ou sessões de grupos com 662 profissionais de saúde, 900 pacientes, 417 cuidadores e oito financiadores de saúde.
No total, identificamos 12 conclusões principais após avaliar todos os estudos. Agrupamos essas descobertas como: (1) desenvolvimento de relações entre as partes e os sistemas antes da implementação, (2) processos, recursos e competências necessárias para uma implementação segura e eficaz, (3) aceitabilidade e impactos nos cuidadores, e (4) sustentabilidade dos serviços. Estamos confiantes na maioria dos resultados, mas estamos menos confiantes em alguns deles, principalmente devido ao pequeno número de estudos e entrevistas com financiadores da saúde que contribuem para as conclusões da revisão.
Quais são as limitações das evidências?
Todos os estudos, excepto um, vieram de países de alto rendimento e, portanto, as nossas conclusões podem não se aplicar a países de baixo e médio rendimento. Alguns estudos não relataram todas as informações que poderiam ser úteis. Por exemplo, os tipos e funções da equipe nem sempre foram incluídos.
Até que ponto estas evidências estão atualizadas?
As evidências estão atualizadas até Novembro de 2022.
Implementar serviços de prevenção de hospitalização e alta precoce para internação domiciliar requer o desenvolvimento prévio de políticas, o envolvimento das partes interessadas, processos de admissão eficientes, comunicação eficaz e uma força de trabalho qualificada para implementar com segurança e eficácia a internação domiciliar centrada na pessoa, alcançar aceitação por parte da equipe que encaminha os pacientes para esses serviços e garantir a sustentabilidade. Os estudos futuros devem centrar-se nos países de rendimento mais baixo e nos contextos rurais, bem como nas perspectivas dos interessados a nível de sistemas, e explorar o potencial impacto negativo sobre os cuidadores, especialmente no caso de internação domiciliar para prevenir hospitalização, visto que este serviço é cada vez mais utilizado para gerir o aumento de visitas aos departamentos de emergência.
Em todo o mundo, há uma demanda crescente por internação domiciliar como alternativa a internação hospitalar. Embora existam evidências crescente sobre a efetividade e a custo-efetividade da internação domiciliar, gestores de serviços de saúde, profissionais de saúde e os formuladores de políticas precisam de evidências sobre como implementar e manter estes serviços em uma escala mais ampla.
(1) Para identificar, avaliar e sintetizar evidências de pesquisas qualitativas sobre os fatores que influenciam a implementação da internação domiciliar para prevenir hospitalização e a internação domiciliar por alta precoce, desde a perspectiva de várias partes interessadas, incluindo formuladores de políticas, gestores de serviços de saúde, profissionais de saúde, pacientes e cuidadores de pacientes.
(2) Para explorar como os resultados da síntese se relacionam e ajudam a explicar os resultados das revisões Cochrane de intervenção dos serviços de internação domiciliar para prevenir hospitalização e a internação domiciliar por alta precoce.
Fizemos buscas nas seguintes bases de dados: MEDLINE, CINAHL, Global Index Medicus e Scopus até 17 de Novembro de 2022. Também aplicamos verificação de referências e busca de citações para identificar estudos adicionais. Fizemos buscas buscas de estudos em qualquer idioma.
Incluímos estudos qualitativos e estudos de métodos mistos com coleta de dados qualitativos, que examinam a implementação de serviços de internação domiciliar novos ou existentes na perspectiva de diferentes partes interessadas.
Dois autores selecionaram os estudos de forma independente, extraíram as características dos estudos e os componentes da intervenção, avaliaram as limitações metodológicas utilizando o Critical Appraisal Skills Checklist (CASP) e avaliaram a confiança nos resultados utilizando o GRADE-CERQual (Confidence in the Evidence from Reviews of Qualitative research). Aplicamos síntese temática para sintetizar os dados dos estudos e identificar fatores que podem influenciar a implementação da hospitalização domiciliar.
A partir de 7.535 registros identificados a partir de buscas em bases de dados e um identificado a partir do rastreamento de citações, incluímos 52 estudos qualitativos que exploram a implementação de serviços de internação domiciliar (31 Alta Precoce, 16 Prevenir Hospitalização, 5 serviços combinados), em 13 países e nas perspectivas de 662 trabalhadores de nível de serviço (médicos, gestores), oito trabalhadores de nível de sistemas (comissários, seguradoras), 900 pacientes e 417 cuidadores. No geral, 40 estudos foram considerados como tendo problemas metodológicos leves e 12 estudos como tendo problemas metodológicos graves. As principais preocupações incluíam métodos de coleta de dados (por exemplo, não relatar um roteiro de tópicos), os métodos de análise de dados (por exemplo, dados insuficientes para apoiar as conclusões) e não reportar aprovação ética. Após a síntese, identificamos 12 achados classificados como confiança alta (n = 10) e moderada (n = 2) e os classificamos em quatro temas: (1) desenvolvimento de relacionamentos e sistemas com as partes interessadas antes da implementação, (2) processos, recursos e competências necessárias para uma implementação segura e eficaz, (3) aceitabilidade e impactos nos cuidadores, e (4) sustentabilidade dos serviços.
Tradução do Cochrane Brazil (Mayara Rodrigues Batista). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com