Os resultados de pesquisas médicas são usados para ajudar médicos e pacientes a tomar decisões sobre tratamentos. Portanto, eles precisam ser capazes de confiar nos relatos destas pesquisas. Desta forma, é importante evitar pesquisas falsas ou enganosas. Os problemas com as pesquisas incluem vários tipos de má conduta, tais como alteração de resultados (falsificação), inventar resultados (fabricação) ou copiar o trabalho de outras pessoas (plágio). Diz-se que bons sistemas que produzem pesquisa confiável mostram "integridade de pesquisa". Estudamos atividades, tais como treinamento, destinadas a reduzir a má conduta e incentivar a integridade em pesquisas. Os efeitos de algumas destas atividades nas atitudes, conhecimentos e comportamentos dos pesquisadores foram estudados e reunimos as evidências destes estudos.
Alguns estudos mostraram efeitos positivos nas atitudes dos pesquisadores em relação ao plágio. O treinamento prático, como o uso de programas de computador que podem detectar o plágio, ou exercícios de escrita, às vezes diminuiu o plágio dos estudantes. Entretanto, nem todos os estudos mostraram efeitos positivos. Não encontramos nenhum estudo sobre fabricação ou falsificação de resultados de pesquisas. Dois estudos mostraram que a forma como os periódicos pedem aos autores detalhes sobre quem fez cada parte do estudo pode afetar suas respostas.
Muitos dos estudos incluídos nesta revisão tiveram problemas, tais como o uso de amostras pequenas ou a utilização de métodos que poderiam produzir resultados tendenciosos. Os métodos de treinamento testados nos estudos (que incluíram cursos online, palestras e grupos de discussão) muitas vezes não foram claramente descritos. A maioria dos estudos testou os efeitos após curtos períodos de tempo. Muitos estudos envolveram estudantes universitários em vez de pesquisadores ativos.
Em resumo, a evidência disponível é de muito baixa qualidade (certeza/confiança). Portanto, o efeito de qualquer intervenção para prevenir a má conduta e promover a integridade em pesquisas e publicações é incerto. Entretanto, o treinamento prático sobre como evitar o plágio pode ser eficaz para reduzir o plágio dos estudantes. Apesar disso, não sabemos se ele tem efeitos a longo prazo.
A base de evidências relacionadas às intervenções para melhorar a integridade em pesquisas é incompleta. Além disso, os estudos que foram feitos são heterogêneos, inadequados para metanálises e sua aplicabilidade a outros ambientes e populações é incerta. Muitos estudos tinham um alto risco de viés porque a escolha do desenho do estudo e intervenções foram freqüentemente inadequadamente relatadas. Mesmo quando foram utilizados desenhos randomizados, foi difícil generalizar os resultados. Devido à muito baixa qualidade das evidências, os efeitos do treinamento de condução responsável de pesquisas na redução da má condução de pesquisas são incertos. Evidências de baixa qualidade indicam que o treinamento sobre plágio, especialmente se envolver exercícios práticos e uso de softwares de correspondência de texto, pode reduzir a ocorrência de plágio.
As práticas inadequadas e a conduta não profissional na pesquisa clínica têm desperdiçado uma parcela significativa dos recursos financeiros de saúde e prejudicam a saúde pública.
Nosso objetivo foi avaliar a efetividade das intervenções (educacionais ou políticas) de integridade de pesquisas ou de condução responsável de pesquisas no comportamento e nas atitudes dos pesquisadores em saúde e em outras áreas da pesquisa.
Fizemos buscas nas bases de dados bibliográficas de saúde CENTRAL, MEDLINE, LILACS e CINAHL. Também fizemos buscas na Academic Search Complete, AGRICOLA, GeoRef, PsycINFO, ERIC, SCOPUS e Web of Science. Realizamos a última busca em 15 de abril de 2015 e a busca foi limitada aos artigos publicados entre 1990 e 2014. Também fizemos buscas nos anais de congressos e resumos de congressos sobre integridade em pesquisas e sites especializados. Fiemos buscas manuais em 14 periódicos que publicam estudos sobre integridade em pesquisas regularmente.
Incluímos estudos que mediram os efeitos de uma ou mais intervenções, ou seja, qualquer procedimento direto ou indireto que possa ter um impacto na integridade da pesquisa e estudos sobre condução responsável de pesquisas em seu sentido mais amplo. Incluímos estudos em que os participantes poderiam ser quaisquer interessados em processos de pesquisa e publicação, desde estudantes até formuladores de políticas. Incluímos ensaios controlados randomizados e não randomizados, tais como estudos controlados antes e depois, com comparações de desfechos no grupo de intervenção versus grupo não intervenção ou antes versus após a intervenção. Os estudos sem um grupo controle não foram incluídos na revisão.
Utilizamos a metodologia padrão da Cochrane. Para avaliar o risco de viés dos estudos não randomizados, usamos uma modificação da ferramenta Cochrane. Nesta avaliação, usamos quatro dos seis domínios originais (cegamento, dados incompletos de desfecho, relato seletivo de desfechos, outras fontes de viés) e dois domínios adicionais (comparabilidade dos grupos e fatores de confusão). Classificamos nosso desfecho primário nos seguintes níveis: 1) mudança organizacional atribuível à intervenção, 2) mudança de comportamento, 3) aquisição de conhecimentos/habilidades e 4) modificação de atitudes/percepções. O desfecho secundário foi a reação dos participantes à intervenção.
Trinta e um estudos com um total de 9.571 participantes, descritos em 33 artigos, preencheram os critérios de inclusão. Todos foram publicados em inglês. Quinze estudos eram ensaios controlados randomizados, nove eram estudos controlados antes e depois, quatro eram estudos controlados não equivalentes com um controle histórico, um foi um estudo controlado não equivalente com apenas um pós-teste e dois foram estudos controlados não equivalentes com resultados de pré e pós-testes para o grupo de intervenção e pós-testes para o grupo controle. Vinte e um estudos avaliaram os efeitos das intervenções relacionadas ao plágio e 10 estudos avaliaram as intervenções de integridade/ética de pesquisas. Os participantes eram graduados, pós-graduados e acadêmicos de diversas disciplinas de pesquisa e de vários países. Os estudos avaliaram diferentes tipos de desfechos.
Julgamos que a maioria dos ensaios controlados randomizados incluídos apresentavam um alto risco de viés em pelo menos um dos domínios avaliados. No caso de estudos não randomizados, não houve tentativas de reduzir o potencial de viés inerente aos desenhos não randomizados.
Identificamos uma série de intervenções destinadas a reduzir a má conduta nas pesquisas. A maioria das intervenções envolvia algum tipo de treinamento. Entretanto, os métodos e conteúdos dos treinamentos variaram muito e incluíram palestras presenciais e online, módulos interativos online, grupos de discussão, lição de casa e exercícios práticos. A maioria dos estudos não utilizou medidas de desfechos padronizadas ou validadas e foi impossível sintetizar os resultados de estudos com intervenções, desfechos e participantes tão diversos. Em geral, há evidências de muito baixa qualidade (certeza) de que vários métodos de treinamento de integridade de pesquisas tiveram alguns efeitos nas atitudes dos participantes em relação às questões éticas, mas efeitos mínimos (ou de curta duração) nos seus conhecimentos. O treinamento sobre plágio e paráfrases teve efeitos variados nas atitudes dos participantes em relação ao plágio e sua confiança em evitá-lo. No entanto, o treinamento que incluiu exercícios práticos pareceu ser mais eficaz. O treinamento em plágio teve efeitos inconsistentes no conhecimento e na capacidade dos participantes de reconhecer o plágio. O treinamento ativo, particularmente com exercícios práticos ou com o uso de software de correspondência de texto, geralmente diminuiu a ocorrência de plágio, embora os resultados não tenham sido consistentes. O desenho do formulário de contribuição dos autores de uma revista afetou a veracidade das informações fornecidas a respeito das contribuições dos indivíduos e a proporção de contribuintes listados que preenchiam os critérios de autoria. Não identificamos nenhum estudo que avaliou intervenções em desfechos a nível organizacional. O número de eventos e a magnitude dos efeitos da intervenção foram geralmente pequenos. Portanto, é provável que as evidências sejam imprecisas. Não houve relatos de efeitos adversos.
Tradução do Cochrane Brazil (Ana Carolina Pereira Nunes Pinto). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com