Muitas pessoas com esquizofrenia apresentam períodos de doença ativa seguidos por períodos de estabilidade relativa (embora os sintomas da doença, tais como ouvir vozes e ver coisas, frequentemente continuem ocorrendo). Isso significa que muitas pessoas com esquizofrenia podem voltar a piorar e precisar de uma nova internação. O treinamento em técnicas para reconhecer os primeiros sinais de recaída encoraja as pessoas a aprender, detectar e reconhecer os sinais de alerta de que vai acontecer uma nova recaída da doença. Estudos indicam que perceber pequenas mudanças nos sinais e sintomas da esquizofrenia pode muitas vezes predizer que vai ocorrer um novo surto e uma recaída da doença dentro das próximas duas a dez semanas. O treinamento para reconhecer sinais de alerta precoce pode ajudar a prevenir ou retardar a recaída, reduzindo as chances de internação. Identificar esses sinais de alerta requer que o médico faça uma história detalhada do paciente, e às vezes é necessário incluir também outras técnicas, tais como o paciente manter um diário dos seus sintomas, preencher questionários e ter um plano de ação para saber o que fazer diante dos sinais de alerta precoce. O treinamento pode ser realizado individualmente ou em grupo, e envolve profissionais de saúde, familiares ou cuidadores. Para que as orientações sejam efetivas, são necessárias em torno de 12 sessões envolvendo terapeutas de alta competência.
Esta revisão incluiu 34 estudos. A conclusão foi que o treinamento para reconhecer os sinais de alerta precoce pode ser benéfico. Esse treinamento reduz a taxa de recaídas e de reinternações (mas não modifica o tempo até a próxima recaída). É importante salientar que, em todos os estudos, o treinamento para reconhecer os primeiros sinais de alerta foi sempre usado em conjunto com outras técnicas de terapia psicológica. Por isso não está claro qual seria o benefício exato do treinamento isoladamente. Além disso, a qualidade geral das evidências existentes é muito baixa. Isso significa que nós não sabemos se as intervenções que utilizaram os sinais de alerta precoce, com ou sem tratamentos psicológicos adicionais, terão os mesmos efeitos benéficos fora dos estudos, isto é, na prática clínica.
Pesquisas adicionais são necessárias para saber se o treinamento de reconhecimento dos sinais de alerta precoce seria efetivo por si só. Os efeitos desse treinamento sobre a qualidade de vida, a satisfação com o atendimento, os gastos e a carga para os cuidadores não são claros. Por isso, antes de introduzir esse treinamento como uma rotina nos serviços de saúde, o ideal seria avaliar tudo isso.No momento, não há evidências suficientes que apoiem o uso desse treinamento (do reconhecimento dos primeiros sinais de alerta) como medida isolada.
Este resumo para leigos foi escrito por Ben Gray do RETHINK.
Esta revisão indica que as intervenções para sinais precoces podem reduzir a proporção de pacientes com esquizofrenia que precisam ser reinternados e as taxas de recaída, mas não afetam o tempo até a próxima recorrência. Porém, no geral, a qualidade das evidências foi muito baixa. Isso significa que não podemos ter certeza se esse tipo de intervenção traria resultados semelhantes quando usada fora dos ensaios clínicos e também significa que é muito provável que futuros estudos possam vir a modificar nossas estimativas do efeito dessa intervenção. Além disso, as intervenções para sinais de alerta precoce foram sempre usadas junto com outras intervenções psicológicas e, portanto, não sabemos se essas intervenções seriam efetivas se fossem usadas sozinhas. As intervenções analisadas podem ser custo-efetivas na medida em que elas reduzem as internações e as taxas de recaída. No entanto, antes de os serviços de saúde mental incorporarem essa conduta (de identificação e gestão imediata dos primeiros sinais de alerta para adultos com esquizofrenia) na sua rotina, outros estudos devem ser conduzidos para obtermos evidências de melhor qualidade e para sabermos qual tipo de intervenção psicológica deve ser associado para aumentar sua eficácia. Futuros ECR devem ser bem desenhados e conduzidos para minimizar o risco de viés e devem reportar seus achados de maneira transparente. Eles também devem avaliar sistematicamente os custos e a utilização de recursos, assim como os resultados de eficácia e os outros desfechos importantes para os pacientes com doença mental grave e seus cuidadores.
A esquizofrenia tem prevalência menor que 1%. Estudos indicam que, frequentemente, antes de os pacientes com esquizofrenia terem um novo surto agudo de psicose, eles apresentam sintomas específicos e individuais (sinais de alerta precoce). Os adeptos das intervenções para sinais de alerta precoce acreditam que, se o paciente aprender a detectar e controlar esses sinais, isso poderia prevenir ou retardar um novo surto psicótico agudo.
Comparar a efetividade de intervenções para sinais de alerta precoce associadas ao tratamento usual, envolvendo ou não terapia psicológica, sobre o intervalo até recaída, a necessidade de internação, a funcionalidade do paciente e sobre sintomas positivos e negativos.
Fizemos buscas na base de dados Cochrane Schizophrenia Group Trials Register (Julho de 2007 e Maio 2012) que recupera estudos publicados nas bases BIOSIS, CENTRAL, CINAHL, EMBASE, MEDLINE e PsycINFO. Revisamos as listas de referências de todos estudos incluídos para identificar possíveis novos estudos. Também fizemos buscas na UK National Research Register e entramos em contato com todas as empresas farmacêuticas relevantes e com os autores dos estudos para obter informações adicionais.
Incluímos os ensaios clínicos randomizados (ECRs) que compararam intervenções para sinais de alerta precoce mais tratamento usual versus tratamento usual, em pacientes com esquizofrenia ou outras psicoses não afetivas.
Extraímos dados dos estudos incluídos e avaliamos sua qualidade. Excluímos os estudos com perdas de mais de 50% dos participantes. Para os desfechos dicotômicos, calculamos o risco relativo (RR) e os respectivos intervalos de confiança (IC) de 95%. Para os desfechos contínuos, calculamos a diferença média (DM) e o erro padrão estimado. Para o desfecho tempo até o próximo evento, calculamos a taxa de incidência (hazard ratio-HR) proporcional de Cox e seu IC de 95%. Avaliamos o risco de viés dos estudos incluídos. Usamos a metodologia GRADE para avaliar a qualidade geral das evidências.
Incluímos na revisão 32 ECR e 2 ECR por conglomerados (cluster), envolvendo um total de 3.554 pacientes. Apenas um estudo avaliou os efeitos das intervenções para sinais de alerta precoce sem intervenções psicológicas adicionais. Muitos dos desfechos da revisão não foram reportados ou foram mal reportados pelos ECR incluídos. A taxa de recaída foi significativamente menor nos pacientes do grupo das intervenções para sinais de alerta precoce do que nos pacientes do grupo de cuidados usuais (23% versus 43%; RR 0,53, IC 95% 0,36 a 0,79, 15 ECR, 1.502 participantes,qualidade da evidência muito baixa). Não houve diferença significativa entre os grupos para o desfecho tempo até a recaída (6 ECR, 550 participantes, evidência de qualidade muito baixa). O risco de re-internação foi significativamente menor no grupo de intervenção para sinais de alerta precoce em comparação com o grupo de cuidados usuais (19% versus 39%, RR 0,48, IC 95% 0,35 a 0,66, 15 ECR, 1.457 participantes, evidência de qualidade muito baixa). Não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos para o desfecho tempo até reinternação (6 ECR,1.149 participantes, evidência de qualidade muito baixa). Devido à falta de evidências, a satisfação dos pacientes com o cuidado recebido e os resultados relacionados a custo foram inconclusivos.
Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Camila Rufino). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br