Perda do controle intestinal, também conhecida como incontinência fecal, pode ser um problema devastador. Ela afeta homens e mulheres de todas as idades, em até 15% da população adulta. Incontinência fecal podem afetar radicalmente a vida cotidiana, como muitas pessoas que tornam-se quase reclusas, sendo incapazes de realizar tarefas simples, como fazer compras, porque estão preocupadas com as perdas fecais.
Incontinência fecal pode ser devido a um problema com os dois músculos ao redor do ânus. Estes músculos podem estar lesados ou tornarem-se fracos devido a uma injúria durante o parto ou cirurgias para o tratamento de doenças anais como hemorróidas e fístulas perianais. Os músculos anais, assim, tornam-se incapazes de segurar as fezes até que a pessoa chegue ao banheiro. O anel interno ou músculo do esfíncter anal interno normalmente mantém o ânus fechado em todos os momentos, exceto nas defecações, evitando a perda passiva de fezes. Um tratamento tem sido desenvolvido para tratar a incontinência fecal, o qual compreende a injeção de substância dentro ou próxima a este músculo, criando um enchimento, fazenso com que o ânus se oclua adequadamente. Ele vem sendo defendido como uma opção simples e efetiva.
Nesta revisão, um grande ensaio clínico demonstrou que a injeção de dextranômero estabilizado em ácido hialurónico melhora os sintomas de incontinência a curto prazo em pouco mais da metade dos que receberam o tratamento. Os outros quatro ensaiosbclínicos analisados eram de valor limitado porque eram geralmente pobres em qualidade metodológica e de pequena dimensão. Não há relatos de resultados a longo prazo para este tratamento.
Um grande ensaio clínico randomizado mostrou que esta forma de tratamento usando dextranômero em ácido hialurônico estabilizado (NASHA Dx) melhora a continência em pouco mais da metade dos pacientes à curto prazo. No entanto, o número de ensaios clínicos identificados foi limitado e a maioria tinha deficiências metodológicas.
Incontinência fecal é uma condição complexa e angustiante com implicações médicas e sociais significativas. A injecção perianal de agentes de enchimento tem sido utilizada para tratar os sintomas passivos da incontinência fecal. No entanto, várias substâncias têm sido utilizadas sem uma técnica padronizada e o suposto benefício do tratamento é em grande parte anedótico, com uma base de investigação clínica limitada.
Determinar a efetividade da injeção perianal de agentes de enchimento no tratamento da incontinência fecal em adultos.
Nós procuramos os registros na Cochrane Incontinence Group Specialised Register of trials (25 de maio de 2012), ZETOC (3 de maio de 2012), registros de ensaios clínicos (3 de maio de 2012) e a lista de referências relevantes dos artigos.
Todos os ensaios clínicos randomizados ou quase-randomizados comparando o uso de agentes de enchimento injetáveis na incontinência fecal com qualquer tratamento alternativo ou placebo foram revisados para avaliar os efeitos terapêuticos. Estudos de caso-controle e de coorte também foram revisados para investigar os riscos e complicações associadas a estes tratamentos.
Dois revisores (YM e CN) avaliaram a qualidade metodológica dos ensaios clínicos elegíveis e independentemente extraíram os dados dos ensaios clínicos incluídos, utilizando uma variedade de medidas de desfecho pré-especificadas.
Foram identificados cinco ensaios clínicos randomizados elegíveis, totalizando 382 pacientes. Quatro dos ensaios clínicos estavam em um risco incerto ou alto de viés.
A maioria dos ensaios clínicos relatou um benefício a curto prazo das injeções, independentemente do material utilizado, incluindo a injeção de solução salina placebo. Um estudo demonstrou que a injeção do dextranômero em ácido hialurónico estabilizado (NASHA Dx) é mais eficaz do que injeção simulada, mas com mais efeitos adversos. Dextranômero em ácido hialurónico estabilizado (NASHA Dx) foi melhor do que as injeções simuladas em seis meses (65/136, 48% versus 48/70, 69% de participantes que não melhoraram, definida como uma redução inferior a 50% em episódios de incontinência, RR de 0,70, 95 IC% 0,55-0,88; com mais de incontinência dias livres (3,1 dias em comparação com 1,7 no grupo de tratamento placebo, MD 1,40 dias, IC 95% 0,33-2,47). Outro estudo que comparou a injeção de um material de silicone (PTQ ™) com injeções de soro fisiológico era muito pequeno para demonstrar um benefício clínico em comparação com a de injeção controle de solução salina.
Um biomaterial de silicone (PTQ ™) demonstrou que pode ter algumas vantagens e ser mais seguro no tratamento da incontinência fecal do que partículas revestidas de carbono (Durasphere ®) à curto prazo.
Da mesma forma, houve benefícios a curto prazo de injeções guiadas por ultrassom em comparação com a guida pelo dedo.
Nenhuma evidência de resultados à longo prazo estava disponível e outras conclusões não eram justificadas com base nos dados disponíveis. Nenhum dos estudos relatou avaliação dos resultados pelos pacientes e, portanto, é difícil avaliar se a melhora do escore de incontinência corresponde a melhora prática dos sintomas que importavam para os pacientes.
Traduzido por: Pedro Luiz Toledo de Arruda Lourencao, Unidade de Medicina Baseada em Evidências da Unesp, Brazil Contato: portuguese.ebm.unit@gmail.com