O bebês que nascem antes de 37 semanas de gestação, e particularmente aqueles que nascem antes de 34 semanas, têm maior risco de ter problemas logo após o parto e complicações na infância. Crianças que nascem prematuras têm maior risco de morrer durante o primeiro ano de vida; e as que sobrevivem têm maior risco de serem internadas várias vezes no hospital e de terem outros problemas de saúde, como paralisia cerebral e sequelas a longo prazo. A progesterona é um hormônio que diminui as contrações uterinas e tem um importante papel na manutenção da gravidez. Por isso, o seu uso é sugerido para a prevenção do parto prematuro. Os efeitos colaterais do uso da progesterona para a mãe incluem dor de cabeça, dores nas mamas, náusea, tosse. A progesterona pode também provocar irritação local, quando é administrada por injeção intramuscular. Até o momento, existe pouca informação disponível sobre a dose ideal de progesterona, o modo de administração, quando iniciar o seu uso ou sobre a duração desse tratamento.
Foi realizada uma revisão dos 36 ensaios clínicos randomizados controlados, envolvendo um total de 8.523 mulheres de alto risco para partos prematuros, e que tiveram 12.515 crianças. A revisão verificou que o uso da progesterona (por injeção intramuscular ou através de um anel de borracha colocado na vagina, produziu vários efeitos benéficos, incluindo redução do risco de o bebê morrer após o parto. A progesterona também diminuiu o risco de o bebê precisar de aparelhos para respirar, de ele desenvolver enterocolite necrotizante (inflamação grave dos intestinos) e precisar ficar internado na unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal. A progesterona prolongou a gravidez e reduziu a chance de admissão nas UTIs.
No entanto, os estudos revisados davam poucas informações sobre os efeitos desse remédio sobre a saúde da criança no longo prazo. No geral, a qualidade dos estudos incluídos na revisão foi considerada regular a boa. Mais estudos são necessários para saber qual é o momento ideal de iniciar o tratamento com progesterona, o modo de administração e a dose.
O uso da progesterona por gestantes de alto risco para o parto prematuro em decorrência de antecedente de parto prematuro ou colo de útero curto ao ultrassom está associado a efeitos benéficos para os recém-nascidos. Porém, existe pouca informação sobre os resultados dessa intervenção sobre desfechos de longo prazo e esta avaliação continua sendo uma prioridade.
Mais estudos são necessários para estabelecer qual é a idade gestacional, a via e a dose ideal para a administração da progesterona para mulheres consideradas de alto risco para parto prematuro.
O parto prematuro é uma complicação importante da gravidez associada com mortalidade e morbidade perinatal. A progesterona tem sido proposta para a prevenção do trabalho de parto prematuro.
Avaliar os benefícios e os riscos da progesterona na prevenção do parto prematuro nas mulheres consideradas de risco para o parto prematuro e suas crianças.
Pesquisamos a base de dados da Cochrane Pregnancy and Childbirth Group's Trials Register (até 14 de janeiro de 2013) e revisamos a lista de referências de todos os artigos.
Selecionamos os ensaios clínicos randomizados controlados em que a progesterona foi dada para prevenir o parto prematuro.
Dois revisores, independentemente, avaliaram os estudos quanto à qualidade metodológica e extraíram os dados.
Trinta e seis ensaios clínicos randomizados controlados (8.523 mulheres e 12.515 crianças) foram incluídos.
Progesterona versus placebo para mulheres com história pregressa de parto prematuro espontâneo
A progesterona foi associada com uma redução estatisticamente significante do risco de mortalidade perinatal (seis estudos; 1.453 mulheres; razão de risco, RR, 0,50, intervalo de confiança de 95%, 95% CI, de 0,33 a 0,75), parto prematuro antes da 34ª semana (cinco estudos; 602 mulheres; RR média 0,31, 95% CI 0,14 a 0,69), nascimento de recém-nascido (RN) com peso menor do que 2.500 g (quatro estudos; 692 crianças; RR 0,58, 95% CI 0,42 a 0,79), uso de ventilação assistida (três estudos; 633 mulheres; RR 0,40, 95% CI 0,18 a 0,90), enterocolite necrotizante (três estudos; 1.170 mulheres; RR 0,30, 95% CI 0,10 a 0,89), morte neonatal (seis estudos; 1.453 mulheres; RR 0,45, 95% CI 0,27 a 0,76), admissão na unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal (três estudos; 389 mulheres; RR 0,24, 95% CI 0,14 a 0,40), parto prematuro antes da 37ª semana (10 estudos; 1.750 mulheres; RR média 0,55, 95% CI 0,42 a 0,74), e aumento estatisticamente significante da duração da gestação (um estudo; 148 mulheres; diferença média, DM, de 4,47 semanas, 95% CI de 2,15 a 6,79 semanas). A via de administração, a época de início e a dose da progesterona tiveram efeitos semelhantes sobre a maioria dos desfechos relatados.
Progesterona versus placebo para mulheres com colo curto identificado pela ultrassonografia
Em comparação com o placebo, o uso da progesterona foi associado com uma redução estatisticamente significante no risco do parto prematuro antes da 34ª semana (dois estudos; 438 mulheres; RR 0,64, 95% CI de 0,45 a 0,90), de parto prematuro antes da 28a semana (dois estudos; 1.115 mulheres; RR 0,59, 95% CI 0,37 a 0,93) e aumento do risco de urticária nas gestantes (um estudo; 654 mulheres; RR 5,03, 95% CI 1,11 a 22,78). Não foi possível avaliar o efeito da via de administração da progesterona, da idade gestacional no início da terapia ou da dose total cumulativa da medicação.
Progesterona versus placebo para mulheres com gestação múltipla
Não houve diferenças estatisticamente significantes entre a progesterona e o placebo nos desfechos relatados.
Progesterona versus nenhum tratamento/placebo para gestantes com ameaça de trabalho de parto prematuro
A progesterona foi associada com uma redução estatisticamente significante do risco de o RN nascer com peso menor de 2.500 g (um estudo; 70 bebês; RR 0,52, 95% CI 0,28 a 0,98).
Progesterona versus placebo para mulheres com outros fatores de risco para o parto prematuro
A progesterona foi associada com uma redução estatisticamente significante do risco de o RN nascer com peso abaixo de 2.500 g (três estudos; 482 bebês; RR 0,48, 95% CI 0,25 a 0,91).
Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Fernando Takashi Kojima Marques)