Os exercícios podem melhorar a qualidade de vida relacionada à saúde de pessoas em tratamento para o câncer?

As pessoas com câncer frequentemente têm muitos efeitos adversos psicológicos e físicos em decorrência da sua doença e do tratamento. Elas também têm um declínio na sua qualidade de vida devido à doença e ao tratamento. Alguns estudos sugerem que os exercícios poderiam ser úteis na redução dos desfechos adversos e poderiam melhorar a qualidade de vida das pessoas fazendo tratamento para o câncer. Além disso, uma melhor qualidade de vida poderia levar a um aumento da sobrevida dessas pessoas. Esta revisão avaliou o efeito dos exercícios na qualidade de vida relacionada à saúde e seu efeito sobre aspectos específicos que fazem parte da qualidade de vida (tais como cansaço, ansiedade, saúde emocional) em pessoas fazendo tratamento de câncer.

A revisão incluiu 56 estudos com um total de 4826 participantes. Os resultados sugerem que os exercícios podem melhorar a qualidade geral de vida medida logo após o término do programa de exercícios. Os exercícios também podem melhorar a capacidade física da pessoa e seu desempenho na sociedade. A prática de exercícios também reduziu o cansaço medido em diferentes momentos durante e após o programa de exercícios. Os efeitos positivos foram maiores quando os exercícios eram de mais intensos. Não foi identificado nenhum efeito do exercício sobre a auto-percepção corporal dos participantes, sobre sua clareza mental, sobre seu humor, sobre sua percepção de dor, nem no modo como a pessoa vê sua saúde espiritual.

Entretanto, estes resultados precisam ser vistos com cuidado porque os estudos usaram programas variados, com exercícios diferentes quanto ao tipo, intensidade e duração. Além disso, os diversos estudos usaram questionários diferentes para medir a qualidade de vida dos participantes.

São necessários mais estudos para descobrir como manter os efeitos positivos dos exercícios depois do término do programa, e para descobrir quais seriam os componentes fundamentais do programa (ex. quando começar, tipo de exercício, duração do programa e da sessão e intensidade do exercício). É também importante descobrir se algum tipo de exercício seria ideal para produzir um efeito máximo, em termos de qualidade de vida, para pacientes com tipos específicos de câncer.

Conclusão dos autores: 

Esta revisão sistemática indica que o exercício pode ter efeitos benéficos sobre a HRQoL e em certos domínios de HRQoL, identificáveis ao longo de diversos períodos de tempo. Os domínios que melhoraram com os exercícios incluem função/capacidade física, desempenho do papel pessoal/profissional, função social e fadiga. Os efeitos positivos dos exercícios são mais evidentes quando o programa é de intensidade moderada ou alta versus leve. Os resultados positivos desta revisão devem ser interpretados com cautela devido à grande diversidade dos programas de exercícios testados e das medidas utilizadas para medir a HRQoL e seus domínios, e o risco de viés em muitos estudos. Mais pesquisas são necessárias para investigar como manter os efeitos positivos do exercício a longo prazo e para descobrir quais são as características dos exercícios (tipo, intensidade, frequência, duração) ideais por tipo de câncer e qual seria o programa recomendado para se obter os melhores efeitos sobre a HRQoL e seus domínios.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

Durante o tratamento para o câncer, muitas pessoas apresentam piora da sua qualidade de vida relacionada à saúde (HRQoL) e têm muitos efeitos adversos decorrentes do seu tratamento ou da sua doença. Acredita-se que a prática de exercícios poderia melhorar esses eventos adversos. A HRQoL e seus domínios são ferramentas importantes de avaliar a qualidade da sobrevida dos pacientes durante e depois do tratamento do câncer.

Objetivos: 

Avaliar a efetividade dos exercícios sobre a HRQoL em geral e sobre domínios específicos do HRQoL, em adultos durante a fase ativa do tratamento de câncer.

Métodos de busca: 

Foi realizada uma busca na Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL), PubMed MEDLINE, EMBASE, CINAHL, PsycINFO, PEDRO, LILACS, SIGLE, SportDiscus, OTSeeker, Sociological Abstracts desde o início até Novembro de 2011, sem restrições de idiomas ou datas. Foi realizada também uma busca nas citações no Web of Science e no Scopus, nos artigos relacionados ao tema no PubMed e em diversos outros websites. Também foram revisadas as listas de referências dos estudos incluídos e de outras revisões sobre o tema.

Critério de seleção: 

Incluímos nesta revisão todos os ensaios clínicos randomizados (ECRs) e quasi-randomizados (CCTs) que compararam exercícios versus cuidados habituais ou versus outro tipo de intervenção sem exercício, para manter e/ou melhorar o escore total ou de pelo menos um domínio específico da HRQoL. Os estudos incluídos nesta revisão testaram exercícios iniciados durante o tratamento ativo para o câncer ou enquanto os pacientes estavam aguardando para iniciar o tratamento.

Coleta dos dados e análises: 

Cinco duplas de autores desta revisão fizeram a extração das características dos estudos incluídos, dos dados sobre os efeitos da intervenção, e avaliaram o risco de viés segundo critérios predeterminados. Quando era possível, foram feitas metanálises das diferenças relatadas entre os valores iniciais e finais dos escores totais do HRQoL e dos seus domínios, usando as diferenças de médias padronizadas (SMDs) e o modelo de efeito randômico, conforme o tempo de seguimento dos pacientes. Relatamos também a SMD entre os grupos exercício versus controle, no final do seguimento. Como os investigadores utilizarem diferentes instrumentos para medir a HRQoL e seus domínios específicos, e como alguns autores usaram mais de um instrumento para avaliar o mesmo domínio, decidimos selecionar o instrumento mais utilizado para ser incluído nas metanálises das SMDs. Também apresentamos a diferença de média para cada tipo de instrumento separadamente.

Principais resultados: 

Foram incluídos 56 estudos com 4826 participantes randomizados para um grupo exercício (n = 2286) ou comparação (n = 1985). Os participantes destes estudos tinham câncer de mama, próstata, ginecológico, hematológico e outros. Em 36 estudos os exercícios foram feitos durante o tratamento ativo da doença, em 10 estudos os participantes receberam a intervenção tanto durante como após um tratamento ativo, e nos outros 10 estudos os participantes receberam a intervenção enquanto estavam aguardando o início do seu tratamento ativo para o câncer. O tipo de exercício foi diferente entre os estudos e incluía apenas caminhada ou caminhada combinada com bicicleta, com exercícios resistidos, ou com exercícios de fortalecimento muscular; exercícios de fortalecimento; bicicleta; yoga; ou Chi kung. Diversos tipos de medidas foram usados para avaliar a HRQoL e seus domínios.

Os resultados sugerem que os exercícios, comparados com as intervenções controle, tiveram um impacto positivo na HRQoL em geral e em alguns domínios específicos. Os exercícios melhoraram: a HRQoL medida na 12a semana de seguimento, em relação à HRQoL no início (SMD 0.33; IC 95% 0.12 - 0.55) ou em comparação com o escore final medido na 12ª semana de seguimento (SMD 0.47; IC 95% 0.16 - 0.79); a função/capacidade física medida na 12a semana de seguimento, em relação à função/capacidade física no início (SMD 0.69; IC 95% 0.16 - 1.22) ou em comparação com função/capacidade física no 6º mês de seguimento (SMD 0.28; IC 95% 0.00 - 0.55); ou quando comparado com diferenças na pontuação medida na 12ª semana de seguimento (SMD 0.28; IC 95% 0.11 - 0.45) ou com 6 meses de seguimento (SMD 0.29; IC 95% 0.07 - 0.50); desempenho do papel profissional/pessoal do participante medido na 12a semana de seguimento, em relação ao desempenho no início (SMD 0.48; IC 95% 0.07 - 0.90) ou em comparação com o desempenho na 12ª semana de seguimento (SMD 0.17; IC 95% 0.00 - 0.34) ou com 6 meses de seguimento (SMD 0.32; IC 95% 0.03 - 0.61); e, na função social medida na 12ª semana de seguimento (SMD 0.54; IC 95% 0.03 - 1.05) ou quando comparando diferenças na pontuação no seguimento com 12 semanas (SMD 0.54; IC 95% 0.03 - 1.05) e com 6 meses (SMD 0.24; IC 95% 0.03 - 0.44). Além disso, os exercícios levaram a uma diminuição da fatiga medida na 12a semana de seguimento, em relação à fadiga no início (SMD -0.38; IC 95% -0.57 - -0.18)e em comparação com a fadiga com 12 semanas de seguimento (SMD -0.73; IC 95% -1.14 a -0.31). A confiança nos resultados é alta devido à consistência dos efeitos medidos (tanto na melhora do escore final como na diferença dos escores antes e depois da intervenção).

As análises por subgrupos mostraram que os exercícios tiveram um maior efeito na redução da ansiedade das sobreviventes de câncer de mama em comparação com outros tipos de câncer. Além disso, observou-se uma maior redução da depressão, fadiga, distúrbios de sono, melhora da HRQoL, bem-estar emocional (EWB), função/capacidade física, e desempenho do papel pessoal/profissional para sobreviventes de outros tipos de cânceres em comparação com os pacientes com câncer de mama. Houve também uma maior melhora na HRQoL e na função/capacidade física, e redução da ansiedade, fadiga, e distúrbios de sono quando foi prescrito um programa de exercícios moderados ou vigorosos versus um programa de exercícios leves.

Os resultados da revisão precisam ser interpretados com cautela devido ao risco de viés. Todos os estudos incluídos nesta revisão foram classificados como tendo um alto risco de viés relacionado à condução e/ou execução da intervenção. Além disso, a maior parte dos estudos foram classificados como tendo um alto risco de viés de detecção, atrito e seleção.

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