Introdução
A dor é o principal motivo de atendimento nos setores de emergência dos hospitais. Tratar uma criança com dor aguda intensa é um desafio e a literatura médica aponta que, nesse tipo de paciente, o manejo deficiente da dor é frequente. Nós revisamos as evidências (os estudos existentes) sobre o uso do fentanil intranasal (um analgésico forte, similar à morfina) comparado com qualquer outro tipo de tratamento para aliviar o sofrimento de crianças com dor aguda intensa.
Características dos estudos
Incluímos estudos com crianças (menores de 18 anos de idade) com dor aguda intensa devido a alguma uma lesão ou alguma doença. A intervenção estudada foi a administração do fentanil intranasal para o alívio da dor comparada com qualquer outra intervenção medicamentosa (por exemplo, morfina intravenosa) ou não medicamentosa (por exemplo, talas ou curativos) para alívio da dor, em um setor de emergência de um hospital. A evidência está atualizada até janeiro de 2014.
Principais resultados
Encontramos três estudos que incluíram 313 crianças com dor aguda intensa resultante de fraturas dos ossos das pernas e braços. Esses estudos compararam o fentanil intranasal versus morfina injetada no músculo (intramuscular) ou na veia (intravenosa). Um dos estudos comparou o uso de fentanil intranasal em dose habitual versus uma concentração mais alta de fentanil. A população desses três estudos incluía crianças de 3 a 15 anos de idade, sendo que a maioria (dois terços) era de meninos. A revisão concluiu que o fentanil intranasal pode ser um analgésico efetivo para o tratamento da dor aguda moderada a intensa em crianças e sua administração parece causar um desconforto mínimo nas crianças. Porém, a evidência é insuficiente para permitir o julgamento dos efeitos do fentanil intranasal comparado com a morfina intramuscular ou intravenosa. Não foram reportados eventos adversos graves (como intoxicação por ópio ou morte).
Limitações
As limitações desta revisão são as seguintes: poucos estudos (apenas três) foram elegíveis para a inclusão nesta revisão; nenhum estudo examinou o uso do fentanil intranasal em crianças menores de três anos de idade; nenhum estudo incluiu crianças com dor causada por um problema "médico" (por exemplo, dor abdominal por apendicite); e todos os estudos elegíveis foram conduzidos na Austrália. Consequentemente, os achados não podem ser generalizados para outros locais, para crianças menores de três anos de idade e para aquelas com dores por causas "médicas".
O fentanil intranasal pode ser um analgésico efetivo para o tratamento de crianças com dor aguda moderada a intensa e sua administração parece causar pouco desconforto para esses pacientes. Entretanto, com base nos estudos existentes, esta revisão não permite chegar a conclusões definitivas quanto ao fentanil intranasal ser superior, não inferior ou equivalente à morfina intramuscular ou intravenosa. As limitações desta revisão são as seguintes: poucos estudos elegíveis para inclusão na revisão (apenas três); nenhum estudo avaliou o uso de fentanil intranasal em crianças com menos de três anos de idade; nenhum estudo incluiu crianças com dores decorrentes de problemas "médicos" (por exemplo, dor abdominal por apendicite) e todos os estudos elegíveis foram conduzidos na Austrália. Consequentemente, os achados não podem ser generalizados para outros locais, para crianças menores de três anos de idade e para aquelas com dor de causa "médica".
A dor é a queixa mais comum nos setores de emergência dos hospitais. Porém, o manejo oportuno da dor aguda em crianças continua sendo deficiente. A administração de medicamentos pela via intranasal é uma forma alternativa de fornecer rapidamente um medicamento sem aumentar o desconforto da criança decorrente da instalação de um acesso venoso.
Identificamos e avaliamos todos os ensaios clínicos randomizados controlados e quasi-randomizados para avaliar os efeitos do fentanil intranasal versus outras intervenções analgésicas em crianças com dor aguda. Os desfechos de interesse foram redução do escore de dor, ocorrência de eventos adversos, tolerabilidade da intervenção pelos pacientes, uso de "analgesia de resgate", satisfação do paciente/pais e mortalidade do paciente.
Fizemos buscas nas seguintes bases de dados: Central Register of Controlled Trials (CENTRAL) (2014, Issue 1); MEDLINE (Ovid SP, de 1995 a janeiro de 2014); EMBASE (Ovid SP, de 1995 a janeiro de 2014); Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL) (EBSCO Host, de 1995 a janeiro de 2014); Latin American and Caribbean Health Science Information Database (LILACS) (BIREME, de 1995 a janeiro de 2014); Commonwealth Agricultural Bureaux (CAB) Abstracts (de 1995 a janeiro de 2014); Institute for Scientific Information (ISI) Web of Science (de 1995 a janeiro de 2014); BIOSIS Previews (de 1995 a janeiro de 2014); China National Knowledge Infrastructure (CNKI) (de 1995 a janeiro de 2014); International Standard Randomized Controlled Trial Number (ISRCTN) (de 1995 a janeiro de 2014); ClinicalTrials.gov (de 1995 a janeiro de 2014); e International Clinical Trials Registry Platform (ICTRP) (até janeiro de 2014).
Incluímos estudos que compararam o fentanil intranasal versus qualquer outra intervenção farmacológica/não farmacológica para o tratamento de dor aguda em crianças (< 18 anos).
Dois revisores independentes avaliaram a relevância de cada título e resumo e selecionaram os estudos que preencheram os critérios de inclusão para leitura na íntegra. A diferença média (DM), a razão de chances (OR) e o intervalo de confiança de 95% (IC) foram utilizados como medidas de estimativa de efeito. Dois revisores, trabalhando de forma independente, avaliaram a qualidade metodológica para cada estudo utilizando a ferramenta da Cochrane para avaliar o risco de viés, conforme recomendado no Capítulo 8 do Cochrane Handbook for Systematic Reviews of Interventions.
Três estudos (com 313 participantes) preencheram os critérios de inclusão. Um estudo comparou fentanil intranasal versus morfina intramuscular; o segundo comparou fentanil intranasal versus morfina intravenosa; o terceiro comparou fentanil intranasal em dose padrão versus fentanil intranasal em alta dose. Todos os três estudos relataram uma redução no escore de dor 10 minutos após a administração do fentanil intranasal. A intervenção produziu uma maior redução no escore de dor do que a morfina intramuscular (escore de dor no grupo fentanil intranasal 1/5 versus 2/5 no grupo da morfina; p = 0,014). Não encontramos outras diferenças estatisticamente significativas nos escores de dor em qualquer outro momento. Na comparação do fentanil intranasal versus morfina intravenosa e fentanil intranasal em alta concentração, não encontramos diferenças estatisticamente significativas entre os grupos antes da analgesia ou após 5, 10, 20 e 30 minutos depois da administração dos analgésicos. Especificamente, quando o fentanil intranasal foi comparado com a morfina intravenosa, ambos promoveram uma redução estatisticamente significativa no escore de dor por até 20 minutos após a analgesia. Não houve queda no escore de dor após esse momento. Na comparação do fentanil intranasal em dose habitual versus alta dose, houve uma diminuição estatisticamente e clinicamente significativa no escore de dor durante o período analisado (decréscimo mediano em ambos os grupos de 40 mm, p = 0,000). Não houve relatos de eventos adversos (como toxicidade por ópio ou morte) em qualquer um dos estudos após a administração do fentanil intranasal. Um dos estudos relatou melhor tolerância por parte dos pacientes ao fentanil intranasal do que à morfina intramuscular, com significância estatística. Os outros estudos descreveram relatos de "gosto ruim" e vômito com o fentanil intranasal. De forma geral, o risco de viés dos três estudos foi considerado baixo.
Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Machline Paim Paganella). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br