Pergunta de revisão
O objetivo da revisão foi avaliar a eficácia dos serviços domiciliares de cuidado restaurativo por tempo limitado para idosos (65 anos ou mais), para ajudá-los a manter ou melhorar sua independência funcional. Esta revisão incluiu dois estudos.
Contexto
Os serviços que ajudam idosos a viver nas suas próprias casas têm um apelo evidente para os usuários dos serviços, assim como para seus familiares, prestadores de cuidados e também para os formuladores de políticas de saúde. Isso é se deve ao fato desses serviços ajudarem a reduzir a necessidade de internar os idosos em hospitais ou casas de repouso, ou ambos. Os cuidados restaurativos podem ser muito úteis para ajudar os idosos a continuarem vivendo em casa. Geralmente, esse tipo de assistência é oferecida por uma equipe multidisciplinar composta por profissionais de saúde e serviço social que trabalha com um idoso com o objetivo de restaurar sua independência. Esse tipo de serviço é oferecido por um período de tempo limitado (6-12 semanas) e geralmente envolve várias visitas domiciliares. O serviço se propõe a atingir metas estabelecidas pelo próprio idoso, e ajudá-lo a recuperar a capacidade de fazer tarefas e atividades de sua vida diária.
Características do estudo
Fizemos buscas por estudos publicados até abril de 2015. A revisão incluiu dois estudos. Um foi feito na Austrália (750 participantes) e o outro na Noruega (61 participantes). Nesses estudos, metade dos participantes recebeu um pacote de cuidados restaurativos domiciliares e a outra metade recebeu cuidados domiciliares tradicionais.
Principais resultados
A qualidade da evidência, para todos os resultados, foi muito baixa. Isso significa que não existe certeza quanto aos efeitos dos cuidados restaurativos domiciliares comparados com os cuidados tradicionais.
Para alguns idosos, os cuidados restaurativos domiciliares melhoram um pouco sua capacidade de fazer atividades de vida diária (capacidade funcional). Porém, esse tipo de serviço parece trazer pouco ou nenhum efeito no seu risco de vir a morrer ou precisar de internação hospitalar. Existem incertezas quanto aos efeitos desse tipo de cuidado na qualidade de vida ou moradia (condições de vida/onde moram) dos idosos. Esse tipo de serviço pode reduzir um pouco o número de pessoas que necessitam de maiores cuidados pessoais e os gastos com cuidados. Porém, nenhum estudo avaliou a satisfação dos participantes que receberam cuidados restaurativos domiciliares.
Qualidade da evidência
Parece que os serviços restaurativos domiciliares trazem alguns pequenos efeitos positivos. Porém, a qualidade dessa evidência é muito baixa; isso significa que existe uma grande incerteza em relação ao tamanho desses efeitos. É necessário fazer mais pesquisas, em outros países e situações, para que se possa ter a certeza quanto à eficácia e a segurança dos cuidados restaurativos domiciliares.
Como a qualidade da evidência (GRADE) é muito baixa, existe uma grande incerteza quanto aos efeitos dos serviços domiciliares de cuidado restaurativo. Portanto, até que se disponha de evidência mais robusta, não se pode apoiar ou refutar a efetividade dos serviços domiciliares de cuidado restaurativo para idosos. Em vários países, os serviços domiciliares de cuidado restaurativo têm recebido muito atenção na prática clínica e por parte dos formuladores de políticas de saúde. Diante disso, existe uma necessidade urgente de realizar mais ensaios clínicos de boa qualidade metodológica sobre essa intervenção em diferentes sistemas de saúde e de assistência social.
O cuidado restaurativo é um tipo de abordagem de assistência domiciliar voltada para os idosos com risco de declínio funcional. Ao contrário dos serviços tradicionais de assistência domiciliar, o cuidado restaurativo geralmente é oferecido por um período de tempo definido (6 a 12 semanas). Além disso, o cuidado restaurativo domiciliar visa maximizar a independência do idoso através de um atendimento centrado na pessoa, intensivo e multidisciplinar, usando intervenções com metas e objetivos definidos.
Avaliar os efeitos de serviços domiciliares de cuidado restaurativo por tempo limitado (até 12 semanas) na manutenção e recuperação da independência funcional de idosos (65 anos ou mais) versus serviços tradicionais de assistência domiciliar ou grupo controle (lista de espera).
Entre abril e junho de 2015 fizemos buscas, sem restrições de idiomas, nas seguintes bases de dados: the Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL); MEDLINE (OvidSP); Embase (OvidSP); PsycINFO (OvidSP); ERIC; Sociological Abstracts; ProQuest Dissertations and Theses; CINAHL (EBSCOhost); SIGLE (OpenGrey); AgeLine and Social Care Online. Também avaliamos as listas de referências dos estudos e de revisões relevantes e entramos em contato com especialistas da área.
Incluímos ensaios clínicos randomizados (ECRs), quasi-randomizados e tipo cluster. que compararam serviços domiciliares de cuidado restaurativo por tempo limitado versus atendimento domiciliar tradicional ou lista de espera, em idosos (65 anos ou mais).
Dois autores, trabalhando de forma independente, fizeram a seleção dos estudos, avaliaram seus riscos de viés, extraíram os dados e avaliaram a qualidade da evidência usando o GRADE. Quando necessário, entramos em contato com os autores dos estudos primários para obter informações adicionais.
Dois estudos, envolvendo 811 participantes, preencheram nossos critérios de seleção. Eles compararam serviços domiciliares de cuidado restaurativo versus serviços tradicionais de atendimento domiciliar. Identificamos três outros estudos potencialmente elegíveis, mas seus resultados ainda não estavam disponíveis. Um estudo, feito na Austrália Ocidental, envolveu 750 participantes com idade média de 82,29 anos. O outro foi realizado na Noruega e envolveu 61 participantes com idade média de 79 anos.
A qualidade da evidência para todos desfechos foi muito baixa. Portanto, estamos muito incertos quanto aos efeitos dos serviços domiciliares de cuidado restaurativo versus atendimento domiciliar tradicional. Seguem os principais achados:
Capacidade funcional: Existe evidência de qualidade muito baixa que o cuidado restaurativo é um pouco mais efetivo que o atendimento tradicional na melhora da função avaliada entre 9 a 12 meses depois da intervenção: diferença média padronizada (SMD) -0,30, intervalo de confiança (IC) 95% -0,53 a -0,06, 2 estudos com 249 participantes (escores mais baixos indicam maior independência).
Efeitos adversos: O cuidado restaurativo traz pouca ou nenhuma diferença no risco de morte no período de 12 meses de acompanhamento: risco relativo (RR) 0,97, IC 95% 0,74 a 1,29, 2 estudos com 811 participantes. Essa intervenção também não modifica o risco de internação hospitalar não planejada nos primeiros 24 meses após a intervenção: RR 0,94, IC 95% 0,85 a 1,03,1 estudo com 750 participantes.
Existe evidência de qualidade muito baixa quanto à influência do cuidado restaurativo sobre a qualidade de vida dos participantes (SMD -0,23, IC 95% -0,48 a 0,02, 2 estudos com 249 participantes) ou suas condições de moradia (RR 0,92, IC 95% 0,62 a 1,34, 1 estudo com 750 participantes) avaliadas em até 12 meses de seguimento. Os idosos que recebem cuidado restaurativo domiciliar podem ter menor probabilidade de precisarem de maiores cuidados pessoais em até 24 meses de seguimento do que aqueles que recebem atendimento domiciliar tradicional: RR 0,87, IC 95% 0,77 a 0,98, 1 estudo com 750 participantes. Da mesma forma, apesar de uma pequena redução nos gastos domésticos e de saúde ao longo dos 24 meses de acompanhamento (cuidado restaurativo: 19.888 dólares australianos, cuidados habituais: 22.757 dólares australianos, 1 estudo com 750 participantes), não temos certeza quanto ao tamanho e importância desse efeito, uma vez que a qualidade dessa evidência é muito baixa.
Nenhum estudo avaliou a satisfação dos usuários com o serviço.
Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Ana Carla Silva dos Santos). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br