Os investigadores conduziram uma revisão sobre os efeitos do exercício físico na saúde física, emocional e mental, em doentes com dor de longa duração (crónica) na anca ou joelho, causada por osteoartrose. Os estudos avaliados foram realizados na Europa, América do Norte, Ásia e Australásia e incluíram intervenções em cenários clínicos, intervenções de exercício físico no domicílio e sessões em instalações de lazer. Os estudos incluíram participantes dos géneros masculino e feminino, com idade igual ou superior a 45 anos.
O que se entende por dor articular crónica e por exercício físico?
A dor crónica da anca e joelho causada pela osteoartrose (destruição da cartilagem e do osso das articulações, resultando em dor e rigidez) é uma causa comum de incapacidade funcional, ansiedade, depressão, diminuição da qualidade de vida e problemas sociais (tais como levar o doente a sentir-se um fardo para os cuidadores/familiares). O exercício físico é recomendado para reduzir a dor e a incapacidade funcional, além de melhorar a depressão, a ansiedade e a qualidade de vida. Queríamos melhorar a nossa compreensão sobre as relações entre dor, capacidade para o movimento, problemas psicológicos como depressão e ansiedade, como a dor crónica afeta as relações sociais, e exercício físico.
O que acontece aos doentes com dor crónica, da anca ou joelho, que participam em programas de exercício?
Uma pesquisa das bases de dados de literatura médica, até Março de 2016, encontrou 21 estudos (com um total de 2372 participantes), que avaliaram a dor, a capacidade para o movimento, ou ambas, juntamente com medidas de eficácia psicológicas e sociais, em doentes com dor e rigidez da anca, joelho ou ambas as articulações, que participaram num programa de exercício físico. A participação em programas de exercício físico provavelmente melhora ligeiramente a dor, a capacidade funcional, a depressão e a qualidade das relações interpessoais. No entanto, a participação neste tipo de programas parece ter apenas um efeito mínimo ou mesmo uma ausência de efeito sobre a ansiedade. A participação nestes programas pode melhorar a confiança dos doentes nas suas próprias capacidades e o seu funcionamento social.
Os estudos confirmaram que:
- doentes que participaram em programas de exercício físico avaliaram a sua dor em menos 1,2 pontos numa escala de 0 a 20 pontos, após cerca de 45 semanas [pontuação: 5,3 com um programa de exercício físico, em comparação com 6,5 no grupo sem um programa de exercício físico (grupo de controlo), uma melhoria de 6%].
- a capacidade física melhorou em cerca de 5%, num período de 41 semanas [o grupo de exercício físico melhorou 5,6 pontos numa escala de 0 a 100 pontos (44,3 pontos com um programa de exercício físico, em comparação com 49,9 pontos no grupo de controlo)].
- a confiança dos doentes nas suas próprias capacidades melhorou 2%, após 35 semanas [o grupo de exercício físico melhorou 1,1 pontos numa escala de 17 a 85 (65,4 no grupo de exercício físico, em comparação com 64,3 no grupo de controlo)].
- os doentes que participaram num programa de exercício físico apresentaram menos 2% de depressão, o equivalente a meio ponto num escala de 0 a 21 pontos, após 35 semanas (3,0 pontos no grupo de exercício físico, em comparação com 3,5 pontos no grupo de controlo).
- o exercício físico diminuiu a ansiedade em 2%, uma queda de 0,4 pontos numa escala de 0 a 21 pontos, após 24 semanas de seguimento (5,4 pontos no grupo de exercício físico, em comparação com 5,8 pontos no grupo de controlo).
- a participação num plano de exercício físico melhorou a interação social em 7,9 pontos, ao longo de um período de 36 semanas, numa escala de 0 a 100 pontos, uma mudança de 8% (81,5 no grupo de exercício físico, em comparação com 73,6 no grupo de controlo).
A qualidade da evidência científica foi geralmente moderada, mas revelou-se baixa para a confiança nas capacidades do próprio doente, saúde mental e função/interação social. Isto deve-se essencialmente à utilização de vários métodos de avaliação, o que resulta numa maior dificuldade de comparação entre estudos, além do viés de expectativa, uma vez que os doentes que participaram no grupo com um plano de exercício físico sabiam que iam praticar exercício físico, pelo que podem ter sido influenciados pela expectativa de melhoria. Nenhum dos estudos reportou a ocorrência de eventos adversos. A duração dos estudos foi variada, pelo que não sabemos se as alterações verificadas ocorreram num curto período de tempo e se mantiveram, ou se as melhorias verificadas nos vários índices foram graduais, ao longo do período de avaliação de cada estudo. Alguns estudos realizaram as suas avaliações mais tarde que outros, durante o período de duração dos mesmos.
Adicionalmente, 12 estudos investigaram as opiniões, crenças e experiências dos participantes com planos de exercício físico, e qual a influência da prática de exercício físico nestas variáveis. A qualidade da evidência científica foi globalmente elevada. Inicialmente os participantes mostraram-se confusos sobre as características da sua dor, o que moldou os seus sentimentos, comportamentos e decisões em relação ao alívio da dor. Os participantes pensavam que o movimento e o exercício físico eram benéficos para as articulações, mas uma vez que o movimento lhes causava dor, mostraram-se preocupados em como o mesmo lhes pudesse ser prejudicial. A falta de informação por parte dos profissionais médicos significou que os doentes evitavam a atividade física e o exercício físico por medo que estes lhes causassem dano.
No global, os participantes nos grupos de intervenção (planos de exercício físico) tiveram experiências positivas, que ajudaram a melhorar as suas crenças em relação aos efeitos do exercício físico sobre a dor, a saúde física e mental e qualidade de vida no geral.
O aconselhamento e a reafirmação sobre a prática de exercício físico, a discussão de crenças erradas sobre saúde, bem como a promoção de programas de exercício físico que sejam agradáveis podem encorajar a participação e beneficiar a saúde de muitas pessoas.
Tradução por: Guilherme Ferreira Dos Santos, Departamento de Medicina Física e Reabilitação, Centro Hospitalar de Lisboa Central, Lisboa, Portugal; Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal; com o apoio da Cochrane Portugal.