Tradicionalmente, os contraceptivos hormonais combinados (CHC), incluindo as pílulas anticoncepcionais, os adesivos transdérmicos e o anel vaginal são administrados diariamente durante 21 dias, seguido de uma semana de intervalo onde a mulher não usa os hormônios. Durante a semana livre de hormônio, a mulher tem um sangramento uterino. Nos últimos anos surgiram novas formas de se usar os contraceptivos hormonais combinados. Isso inclui a tomada de CHC por mais de 28 dias consecutivos. Alguns dos regimes incluem pausas ocasionais no uso dos CHC, enquanto outros não fazem essas pausas. Tornou-se popular as mulheres postergarem ou eliminarem a pausa no uso dos hormônios contraceptivos para evitar o sangramento mensal. Isso nos motivou a realizar esta revisão para comparar os regimes mais novos com os regimes tradicionais de usar CHC. Fizemos uma busca para identificar todos os ensaios clínicos randomizados sobre esta questão, publicados em qualquer idioma. Encontramos 12 estudos que preencheram os critérios de inclusão. A ocorrência de sangramento, a taxa de descontinuação e a satisfação relatada pelas participantes foram semelhantes nas mulheres que usaram os CHC em ciclo contínuo ou estendido comparado aquelas que usaram os contraceptivos de forma tradicional (regime cíclico). Os estudos eram pequenos demais para avaliar a eficácia, os eventos adversos raros e a segurança. Usar CHC na forma de ciclos estendidos (por mais de 28 dias) ou de forma contínua parece ser uma opção razoável.
Na atualização de 2014 encontramos quatro ECRs adicionais, porém as conclusões se mantiveram inalteradas. A evidência proveniente dos ECRs comparando regimes contínuos ou estendidos (hormônios ativos por mais de 28 dias) de CHC versus regimes tradicionais (hormônios ativos por 21 dias e 7 dias de placebo, ou por 24 dias e 4 dias de placebo) é de boa qualidade. Porém, não pudemos fazer metanálises devido à diferenças no tipo de hormônios usados e na duração de uso dos ciclos estendidos. Recomenda-se que futuros estudos avaliem uma das modalidades de CHC previamente descritas em outros estudos. Novos estudos também precisam focar mais em aspectos como satisfação da participante, continuidade de uso. e sintomas menstruais.
A interrupção da menstruação com a administração continua ou estendida (superior a 28 dias) de contraceptivos hormonais combinados (CHC) ganhou legitimidade desde que passou a ser usada no tratamento da endometriose, dismenorreia e outros sintomas associados à menstruação. A interrupção da menstruação com a administração contínua ou estendida de CHC motivada por preferências pessoais pode trazer vantagens adicionais às mulheres, tais como aumento da adesão, maior satisfação, menos sintomas menstruais e redução do absenteísmo relacionado à menstruação.
Avaliar diferenças entre o uso de CHC (pílulas, adesivo ou anel vaginal) em ciclos contínuos ou estendidos com hormônios ativos por mais de 28 dias versus ciclo tradicional (21 dias com hormônios e 7 dias com placebo, ou 24 dias com hormônios e 4 dias com placebo). Nossa hipótese era que os ciclos contínuos ou estendidos de CHC teriam eficácia e segurança equivalente e melhores perfis de sangramento, taxas de amenorreia, adesão, continuação, satisfação da participante e menos sintomas menstruais do que os ciclos tradicionais de CHC.
Fizemos buscas nas seguintes bases de dados, buscando por ensaios clínicos envolvendo ciclos contínuos ou estendidos de CHC (orais, adesivos ou anel vaginal) publicados entre 1966 e 2013:Cochrane Central Register of Controlled Trials, PUBMED, EMBASE, POPLINE, e LILACS. Também fizemos buscas nas listas de referências de artigos de revisão e em publicações incluídas no protocolo. Entramos em contato com pesquisadores para identificar referências adicionais.
Incluímos ensaios clínicos randomizados (ECRs), publicados em qualquer idioma, que compararam CHC usados em ciclos contínuos ou estendidos (mais de 28 dias com hormônios ativos) versus ciclos tradicionais (hormônios ativos por 21 dias e 7 dias de placebo, ou 24 dias e 4 dias de placebo).
Avaliamos os títulos e resumos identificados pela busca para identificar estudos potencialmente elegíveis para inclusão na revisão. Extraímos os dados usando uma ficha padronizada de coleta de dados e fizemos sua inserção no RevMan 5. Para os desfechos dicotômicos, calculamos as razões de chances (OR) de Peto, e seus respectivos intervalos de confiança (IC) de 95%. Para os desfechos contínuos, calculamos as diferenças de média ponderadas. Avaliamos a qualidade dos estudos analisando os seguintes pontos: desenho de estudo, método de randomização, sigilo de alocação, exclusões após randomização, perda de seguimento e interrupção precoce. Como os estudos incluídos não usaram o mesmo tratamento (tipo de formulação de CHC, via de administração ou duração do ciclo contínuo), não foi possível combinar os dados em uma meta-análise.
Doze ECRs preencheram os critérios de inclusão. Segundo esses estudos, a eficácia contraceptiva (taxa de gravidez) e o perfil de segurança foram semelhantes nos regimes de 28 dias e nos ciclos estendidos ou contínuos. Os estudos que avaliaram a taxa de adesão das participantes não encontraram diferenças entre os regimes de 28 dias versus os ciclos estendidos ou contínuos. As participantes reportaram alta satisfação com ambos regimes de uso, mas este desfecho não foi avaliado por todos estudos. A taxa geral de interrupção e a interrupção por problemas de sangramento não foram uniformemente maiores em nenhum dos grupos. Os estudos que avaliaram sintomas menstruais relataram melhores resultados no grupo de regime estendidos ou contínuos em relação às queixas de dor de cabeça, irritação genital, cansaço, inchaço e dor menstrual. Em 11 dos 12 estudos, os padrões de sangramento ao longo do tempo foram equivalentes entre grupos ou melhores nas mulheres dos grupos que usaram CHC em regimes estendidos ou contínuos. Alguns estudos usaram ultrassonografia e/ou biopsias para avaliar o endométrio de algumas participantes. Todos esses exames foram normais, tanto nas mulheres que usaram CHC em regime cíclico como em regime estendido.
Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Andréa Libório Monteiro) - Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br