O folato é uma vitamina que existe na natureza. O ácido fólico é um substituto sintético dessa vitamina; ele é usado na maioria dos suplementos e nos alimentos fortificados. O folato é essencial e sua deficiência pode ser causada por dieta inadequada, por fatores genéticos ou pela interação de fatores genéticos e ambientais. As mulheres que sofrem de anemia falciforme e aquelas que vivem em áreas onde a malária é endêmica têm maior necessidade de folato. Nesses locais, a anemia é um importante problema de saúde durante a gestação. Durante a gravidez, as mulheres precisam ingerir mais folato porque elas têm que produzir mais sangue e dar conta das necessidades do bebê em formação. Uma dieta pobre em folatos pode levar ao surgimento de anemia na gestante, o que pode aumentar os riscos de ela ter um bebê pequeno, anêmico e prematuro (nascido antes do nono mês). A suplementação com ácido fólico antes da concepção reduz a chance de o bebê ter defeitos do tubo neural (coluna e cérebro). Esta revisão teve por objetivo avaliar se tomar suplementos de ácido fólico durante a gravidez reduziria os riscos de o bebê nascer antes do tempo e de ele ter baixo peso. O presente estudo também buscou avaliar o impacto da suplementação sobre o sangue da mãe (parâmetros hematológicos), os níveis de folato e complicações da gestação.
Os autores desta revisão encontraram 31 estudos (envolvendo 17.771 mulheres) que avaliaram o impacto da suplementação do ácido fólico durante a gestação. Os resultados mostraram que a ingestão de suplementos com folato durante a gestação não reduziu o risco de a mulher ter um parto prematuro, um bebê que morresse dentro do útero (morte fetal) ou logo depois do nascimento (morte neonatal) ou de ter um bebê de baixo peso (menos de 2500 g). A suplementação também não diminuiu o risco de a mulher ter anemia antes do parto nem o risco de ela ter uma baixa concentração de folato nas suas células vermelhas.Porém, a suplementação aumentou o nível de folato no sangue da mulher antes do parto. Esta revisão também não encontrou qualquer impacto da suplementação de folato, comparado com uso de placebo (comprimido sem nenhum princípio ativo), na melhora do peso médio de nascimento dos bebês e nos níveis médios de hemoglobina da mãe durante a gestação. Porém, os estudos indicam que a suplementação produziu alguma melhora no nível de folato da mãe. Segundo as evidências atualmente disponíveis, vindas dos estudos incluídos nesta revisão, não há indícios conclusivos de que a suplementação de ácido fólico durante a gravidez traga benefícios.
A maioria dos estudos foi realizada entre 30 e 45 anos atrás.
Não encontramos evidências conclusivas de que a suplementação de ácido fólico durante a gravidez traga benefícios para desfechos gestacionais.
Durante a gestação, o crescimento fetal causa aumento no número total de células em divisão, levando ao aumento das necessidades de folato. A ingestão alimentar insuficiente dessa substância leva à redução da concentração sérica de folato e consequente redução da concentração eritrocitária de folato, aumento da concentração da homocisteína e alterações megaloblásticas na medula óssea e em outros tecidos com rápida divisão celular.
Avaliar a efetividade da suplementação oral de ácido fólico isolado ou associado a outros micronutrientes versus o não uso do ácido fólico (placebo ou os mesmos micronutrientes sem o ácido fólico), sobre parâmetros bioquímicos e hematológicos durante a gravidez e sobre desfechos gestacionais.
Realizamos buscas na Cochrane Pregnancy and Childbirth Group's Trials Register (31 de dezembro de 2012) e contactamos as principais organizações que trabalham com suplementação de micronutrientes, incluindo UNICEF Nutrition Section, World Health Organization (WHO) Maternal and Reproductive Health, WHO Nutrition Division, e National Center on Birth defects and Developmental Disabilities e o US Centers for Disease Control and Prevention (CDC).
Ensaios clínicos randomizados, randomizados por conglomerados (cluster) e controlados cruzados que avaliaram a suplementação apenas com ácido fólico ou em associação com outros micronutrientes versus o não uso de ácido fólico (placebo ou apenas os outros micronutrientes) na gestação.
Dois autores avaliaram de forma independente a elegibilidade e a qualidade dos estudos e extraíram os dados, avaliando a sua acurácia.
Foram incluídos 31 estudos envolvendo 17.771 mulheres. A revisão concluiu que a suplementação com ácido fólico não teve impacto sobre desfechos gestacionais como parto prematuro [risco relativo (RR) 1,01, intervalo de confiança de 95% (95% CI) 0,73 a 1,38; 3 estudos, 2959 participantes], e morte fetal/neonatal (RR 1,33, 95% CI 0,96 a 1,85; 3 estudos, 3110 participantes). Porém, foi observado aumento no peso médio de nascimento dos bebês [diferença média (MD) 135,75 g, 95% CI 47,85 a 223,68 g). A intervenção não melhorou o risco de anemia materna durante a gestação (RR médio 0,62, 95% CI 0,35 a 1,10; 8 estudos, 4.149 participantes; metanálise de efeito aleatório), o nível médio de hemoglobina antes do parto (MD -0,03, 95% CI -0,25 a 0,19; 12 estudos, 1806 participantes), o nível médio de folato sérico [diferença média padronizada (SMD) 2,03, 95% IC 0,80 a 3,27; 8 estudos, 1250 participantes; metanálise de efeito aleatório] e nem o nível médio de folato nas hemácias maternas antes do parto (SMD 1,59, 95% CI -0,07 a 3,26; 4 estudos, 427 participantes, metanálise de efeito aleatório). Entretanto, foi observada redução significativa na incidência de anemia megaloblástica (RR 0,21, 95%CI 0,11 a 0,38, 4 estudos, 3.839 participantes).
Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Maria Claudia Bayão Carelli). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br