Complicações após cirurgia plástica facial
A cirurgia plástica facial é uma das mais frequentes da atualidade. Muitas pessoas optam por fazer esse procedimento por razões estéticas (beleza), portanto os médicos procuram formas de minimizar os efeitos desagradáveis (complicações) associados com esse tipo de cirurgia. Toda cirurgia produz uma resposta inflamatória que pode causar inchaço e hematomas. Quando o inchaço e hematomas são intensos, tornam-se incômodos para os pacientes porque atrasam sua recuperação completa.
Por que os corticoides podem ajudar
Os corticoides, também conhecidos como “esteroides”, são medicamentos que os médicos prescrevem para reduzir a inflamação em um grande número de condições. Seu uso é frequente em cirurgias plásticas faciais para reduzir o inchaço e os hematomas, mas ainda não se sabe exatamente qual é a eficiência e segurança do uso desses medicamentos para esses pacientes.
O objetivo desta revisão
Esta revisão tentou descobrir se o uso dos corticoides na época da cirurgia plástica facial reduz o inchaço e hematoma quando comparado com outra intervenção, com nenhuma intervenção ou com o uso de um medicamento falso (placebo).
Conclusões desta revisão
Os autores da revisão procuraram artigos na literatura médica publicados até janeiro de 2014 e identificaram 10 ensaios clínicos relevantes, com um total de 422 participantes. Nove desses estudos foram realizados com pessoas que fizeram rinoplastia (cirurgia para remodelar o nariz) e um foi realizado com pessoas que estavam fazendo lifting facial. Os estudos analisaram vários tipos e doses de corticoides. Os participantes nos estudos foram avaliados quanto a inchaço e hematomas por até 10 dias após a cirurgia. Nenhum dos estudos mencionou qual foi a fonte de financiamento.
Foi encontrada alguma evidência, de baixa qualidade, de que uma dose única de corticoide administrada antes da cirurgia poderia reduzir o inchaço e hematomas durante os primeiros dois dias após a cirurgia, mas esta vantagem não se manteve além de dois dias. Um estudo com 40 participantes mostrou que altas doses de corticoides diminuíram tanto o inchaço como os hematomas entre o primeiro e o sétimo dias de pós-operatório. A utilidade desses resultados é incerta e não existe no momento nenhuma evidência em relação à segurança do tratamento. Cinco estudos não informaram nada sobre efeitos adversos (negativos) e quatro estudos informaram que não havia ocorrido nenhum efeito adverso entre seus participantes. Um estudo relatou efeitos adversos em dois participantes tratados com corticoides bem como em quatro participantes tratados com placebo. Nenhum dos estudos apresentou dados sobre tempo de recuperação, satisfação do paciente ou qualidade de vida.
Portanto, a evidência atual não apoia o uso rotineiro de corticoides em cirurgia plástica facial. Mais estudos precisam ser conduzidos antes que possamos saber se esse tratamento funciona e é seguro.
Há evidência limitada que uma dose única de corticosteroides no período perioperatório de rinoplastia diminui a formação de edema e equimoses durante os dois primeiros dias pós-operatórios, mas a diferença não se mantém após esse período. Também há evidência limitada que altas doses de corticosteroides diminuem tanto equimoses como edema entre o primeiro e o sétimo dia de pós-operatório. Não se sabe qual é o significado clínico desta diminuição e existe pouca evidência disponível sobre a segurança dessa intervenção. Mais estudos são necessários porque a evidência atualmente disponível não apoia o uso de corticosteroides para a prevenção de complicações após uma cirurgia plástica facial.
A recuperação precoce é um fator importante para pessoas submetidas a cirurgias plásticas na face. No entanto, os processos inflamatórios que são consequência normal de qualquer cirurgia frequentemente causam complicações indesejáveis como edema (inchaço) e equimoses (hematomas). Edemas e equimoses graves atrasam a recuperação completa dos pacientes e podem deixá-los insatisfeitos com a cirurgia. Os corticosteroides têm sido usados no período perioperatório para evitar o edema e as equimoses após cirurgia plástica facial.
Avaliar os efeitos, inclusive segurança, do uso de corticoides no período perioperatório de cirurgia plástica facial para prevenção de complicações em adultos.
As buscas foram feitas nas seguintes bases de dados eletrônicas, em janeiro de 2014: the Cochrane Wounds Group Specialised Register; the Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL) (Cochrane Library); Ovid MEDLINE; Ovid MEDLINE (In Process & Other Non-Indexed Citations); Ovid Embase; EBSCO CINAHL; e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Não houve restrição de idiomas ou data de publicação.
Foram incluídos ensaios clínicos randomizados (ECRs) que comparavam administração de corticosteroides sistêmicos versus outra intervenção, nenhuma intervenção ou placebo no período perioperatório de cirurgia plástica facial.
Dois revisores selecionaram independentemente os estudos a serem incluídos na revisão, avaliaram sua qualidade e realizaram a extração dos dados.
Foram incluídos 10 ECRs com um total de 422 participantes, que avaliaram dois desfechos de interesse: inchaço (edema) e hematomas (equimoses). Nove estudos sobre rinoplastia usavam diferentes tipos e doses de corticosteroides. Em geral, os resultados dos estudos incluídos indicaram que existe alguma evidência de que administração de corticosteroides no perioperatório diminui a formação de edema nos dois primeiros dias após a cirurgia. Foi possível realizar uma metanálise com apenas dois estudos, com um total de 60 participantes, que mostrou que uma dose única perioperatória de 10 mg de dexametasona diminuiu a formação de edema nos primeiros dois dias após a cirurgia (SMD =-1,16, intervalo de confiança, IC, de 95% : -1,71 a -0,61, evidência de baixa qualidade). As evidências para equimoses foram menos consistentes entre os estudos, com alguns resultados contraditórios. Porém, de uma forma geral, existe alguma evidência que o uso de corticosteroides no periperatório diminui a formação de equimoses durante os primeiros dois dias após a cirurgia (SMD = -1,06, IC 95%: -1,47 a -0,65, dois estudos, 60 participantes, evidência de baixa qualidade). A diferença não se manteve após esse período inicial. Um estudo com 40 participantes mostrou que altas doses de metilprednisolona (mais de 250 mg) diminui tanto equimoses como o edema entre o primeiro e o sétimo dia de pós-operatório. O único estudo com cirurgia de lifting facial não identificou nenhum efeito positivo sobre o edema com a administração pré-operatória de corticosteroides. Cinco estudos não informaram sobre os efeitos adversos (negativos); quatro estudos informaram não haver nenhum efeito adverso; um estudo relatou presença de efeitos adversos em dois participantes tratados com corticosteroides, bem como em quatro participantes tratados com placebo. Nenhum dos estudos relataram tempo de recuperação, satisfação do paciente ou qualidade de vida. Todos estudos incluídos tiveram risco incerto de viés de seleção e baixo risco de viés para outros domínios.
Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Arnaldo Alves da Silva)