Porque fizemos esta revisão?
O HIV ainda é uma causa importante de mortes no mundo inteiro, e especialmente na África. O HIV se multiplica no sangue e danifica o sistema imune. Assim sendo, se alguém é HIV-positivo, fica vulnerável a contrair infecções. O tratamento farmacológico atual, a terapia antirretroviral (TARV), interrompe a multiplicação do vírus e permite que o sistema imune se recupere. A interleucina-2 (IL-2) é uma proteína do organismo que ajuda os glóbulos brancos do sangue a se multiplicarem. Essas são as células que combatem as infecções. Apesar da IL-2 aumentar a quantidade de glóbulos brancos, não sabemos se o aumento destas células traria benefícios adicionais à TARV isolada. O objetivo desta revisão Cochrane foi descobrir se o uso da IL-2 mais TARV, comparado ao uso de apenas TARV, reduz a enfermidade ou morte de adultos HIV-positivos.
Principais achados
Descobrimos que o uso da IL-2 leva a um aumento das células CD4 (evidência de alta qualidade). Contudo, não produz diferença em resultados importantes como morte e outras infecções (evidência de alta qualidade). Também descobrimos que o uso da IL-2 provavelmente leva a um aumento dos efeitos colaterais (evidência de qualidade moderada). Nossos achados não apoiam o uso da IL-2 como tratamento adicional à TARV em adultos HIV-positivos.
Resultados principais
Após uma busca abrangente realizada em 26 de maio de 2016, incluímos 25 estudos na revisão. Esses estudos haviam sido conduzidos em seis países. Não houve diferença no número de mortes entre o grupo que recebeu IL-2 e o grupo que recebeu apenas TARV (6 estudos, 665 participantes, evidência de alta qualidade). Dezessete de 21 dos estudos relataram um aumento na contagem das células CD4 com o uso da IL-2 comparado ao uso isolado da TARV. Esses estudos fizeram essas medidas de diferentes maneiras. De modo geral, ao final dos estudos, não houve diferença na proporção de participantes com carga viral menor que 50 células/ml (5 estudos, 805 participantes, evidência de alta qualidade) ou menos de 500 células/ml (4 estudos, 5029 participantes, evidência de alta qualidade). De modo geral parece haver pouca ou nenhuma diferença na incidência de infecções oportunistas (7 estudos, 6141 participantes, evidência de baixa qualidade). Houve um provável aumento nas taxas de eventos adverso graus 3 ou 4 (6 estudos, 6291 participantes, evidencia de qualidade moderada). Nenhum dos estudos incluídos avaliou a aderência dos participantes.
Existe evidência de alta qualidade que a IL-2 associada à TARV aumenta a contagem das células CD4 em adultos HIV-positivos. Contudo, a IL-2 não traz nenhum benefício significativo na mortalidade, parece não fazer nenhuma diferença na incidência de infecções oportunistas, e provavelmente aumenta o risco de eventos adversos grau 3 ou 4. Nossos resultados não apoiam o uso de IL-2 como adjuvante à TARV em adultos HIV-positivos. Baseado nos nossos achados, não se justifica realizar novos ensaios clínicos.
O vírus de imunodeficiência humana (HIV) continua a ser uma das principais causas de morbidade e mortalidade, especialmente na África subsaariana. Embora a terapia antirretroviral (TARV) tenha ajudado a melhorar a qualidade de vida e a expectativa de vida dos indivíduos HIV-positivos, ainda é necessário investigar outras intervenções que possam ajudar a reduzir o peso da doença. Uma das possíveis estratégias é o uso da interleucina - 2 (IL-2) associada com a TARV. A IL-2 é uma citocina que regula a proliferação e diferenciação dos linfócitos e pode ajudar a impulsionar o sistema imunológico.
Avaliar os efeitos da interleucina-2 (IL-2) como adjuvante à TARV em adultos HIV-positivos.
Fizemos buscas nas seguintes bases de dados até 26 de maio de 2016: Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL) na Cochrane Library; MEDLINE, Embase, Web of Science, LILACS, e nas plataformas de registros de ensaios clínicos WHO International Clinical Trial Registry Platform (ICTRP) e ClinicalTrials.gov. Também avaliamos resumos de conferências e entramos em contato com especialistas e organizações relevantes da área. Por fim, verificamos as listas de referências de todos os estudos identificados, em busca de outros estudos elegíveis.
Incluímos ensaios clínicos controlados randomizados (ECRs) que avaliaram os efeitos da IL-2 como adjuvante à TARV na redução da morbidade e mortalidade em adultos HIV-positivos.
Dois autores da revisão, trabalhando de forma independente, avaliaram as referências, selecionaram os estudos que preencheram os critérios de inclusão, extraíram os dados, e avaliaram o risco de viés dos estudos incluídos. Sempre que possível, estimamos os efeitos da intervenção usando a razão de risco (RR) e seu intervalo de confiança (IC) de 95%. Avaliamos a qualidade (certeza) geral da evidência usando a abordagem GRADE.
Após uma ampla busca da literatura disponível até 26 de maio de 2016, identificamos 25 ECRs. Esses estudos comparavam o uso da IL-2 associado à TARV versus TARV isolada. Não houve diferença na mortalidade entre IL-2 mais TARV versus e TARV isolada (RR 0,97, IC 95% 0,80 a 1,17; 6 ECRs, 6565 participantes, evidência de alta qualidade). Dezessete dos 21 ECRs relataram um aumento na contagem das células CD4 com o uso da IL-2 comparado ao controle, usando medidas diferentes (21 ECRs, 7600 participantes). De modo geral, no final dos estudos houve pouco ou nenhuma diferença na proporção de participantes com carga viral menor que 50 células/ml (RR 0,97, IC 95% 0,81 a 1,15; 5 ECRs, 805 participantes, evidência de alta qualidade) ou menor que 500 células/ml (RR 0,96, IC 95% 0,82 a 1,12; 4 ECRs, 5929 participantes, evidência de alta qualidade ). De modo geral, houve pouca ou nenhuma diferença na incidência de infecções oportunistas (RR 0,79, IC 95% 0,55 a 1,13; 7 ECRs, 6141 participantes, evidência de baixa qualidade) Houve um provável aumento nos eventos adversos grau 3 ou 4 (RR 1,47, IC 95% 1,10 a 1,96; 6 ECRs, 6291 participantes, evidência de qualidade moderada). Nenhum dos estudos avaliou a aderência dos participantes.
Tradução do Cochrane South Africa e Cochrane Africa em parceria com o Cochrane Brazil (Beatriz Manuel e Maria Regina Torloni). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br