Pergunta da Revisão
O objetivo desta revisão da Cochrane foi perceber qual das substâncias usadas para sedar crianças durante um tratamento dentário era a mais eficaz.
Introdução
O medo das crianças submetidas a tratamentos médico-dentários pode ser expresso na forma de comportamento não-cooperante. Estes problemas de comportamento podem resultar na destruição dos dentes da criança que se encontram por tratar. Embora as técnicas não farmacológicas utilizadas para lidar com comportamentos difíceis de crianças sejam relevantes, é difícil conseguir a cooperação de algumas crianças para se proceder com o tratamento, podendo ser necessário sedação. Esta revisão examinou a eficácia de algumas substâncias capazes de induzir sedação consciente em crianças.
Características dos estudos
Autores da Cochrane Oral Health realizaram esta revisão e a evidência consultada era a mais atualizada na data de 22 de fevereiro de 2018. Um total de 50 ensaios clínicos aleatórios foram incluídos, onde foram incluídos um total de 3704 participantes. Nestes estudos foram usados 34 sedativos diferentes, sendo que alguns possuíam óxido nitroso inalável. As dosagens e a distribuição destas substâncias variaram. Os estudos foram agrupados consoante a comparação de princípios ativos com placebo, comparação de princípios ativos entre si ou comparação de diferentes dosagens do mesmo princípio ativo. Devido a estes estudos serem muito distintos, apenas foi possível fazer meta-análise para estudos que comparassem midazolam oral com placebo. Esta revisão demonstrou que o uso de midazolam oral conseguiu que os pacientes fossem mais cooperantes aquando do tratamento, do que quando se usou o placebo. Quando reportados, os efeitos adversos eram poucos ou de baixa gravidade.
Resultados-chave
O midazolam oral provavelmente melhora o comportamento das crianças aquando de um tratamento dentário. Foram avaliados outros sedativos, mas não existe evidência suficiente para chegarmos a uma conclusão.
Confiança na evidência
Existe evidência com moderado grau de certeza de que o midazolam administrado no sumo é eficaz.
Existe alguma evidência, com moderada certeza, que o midazolam oral é uma substância sedativa eficaz em crianças que irão realizar tratamentos dentários. São necessários mais ensaios clínicos, bem desenhados e corretamente reportados, para ser possível avaliar o potencial sedativo de outros agentes sedativos. As recomendações para investigação futura são descritas e sugere-se que os estudos futuros avaliem novos agentes farmacológicos ou posologias em comparação com a sedação com midazolam oral ou óxido nitroso inalável.
O medo que as crianças têm dos procedimentos de tratamento dentário poderá causar problemas de comportamento ao médico dentista, que poderão ser um obstáculo para um tratamento dentário bem-sucedido. A sedação pode ser usada para diminuir a ansiedade e para melhorar o comportamento de crianças que irão realizar o tratamento. É assim pertinente determinar, tendo em conta as investigações publicadas, quais as substâncias, as dosagens e posologias que são eficazes. Esta é a segunda atualização da Revisão da Cochrane que foi publicada originalmente em 2005, e atualizada posteriormente em 2012.
Avaliar a eficácia e a eficácia relativa de substâncias e dosagens para sedação consciente usados para gestão comportamental de pacientes em contexto de medicina dentária pediátrica.
Foram utilizadas as seguintes bases de dados: Cochrane Oral Health's Trials Register (até ao dia 22 de fevereiro de 2018); a Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL; 2018, Issue 1) na Cochrane Library (pesquisa no dia 22 de fevereiro de 2018); MEDLINE Ovid (desde o ano de 1946 até ao dia 22 de fevereiro 2018); e na Embase Ovid (desde o ano de 1980 até ao dia 22 de fevereiro de 2018). Foram pesquisados ensaios em curso nas seguintes bases de dados: The US National Institutes of Health Ongoing Trials Register (ClinicalTrials.gov) e a World Health Organization International Clinical Trials Registry Platform. Não foram introduzidas restrições de idioma ou da data de publicação aquando da pesquisa nas bases de dados eletrónicas.
Os estudos foram selecionados se cumprissem os seguintes critérios: ensaios clínicos aleatorizados sobre sedação consciente comparando duas ou mais substâncias/técnicas/placebo, realizados pelo médico dentista ou por um membro da equipa de medicina dentária, em crianças até aos 16 anos de idade. Excluímos ensaios com desenho experimental cruzado.
Dois autores selecionaram independentemente, e em duplicado, informação que dissesse respeito a métodos, participantes, intervenções, medidas de desfecho e resultados clínicos. Quando a informação dos ensaios publicados era inconclusiva ou incompleta, os autores os mesmos foram contactados. Os ensaios foram avaliados relativamente ao seu risco de viés. As normas de estatística da Cochrane foram cumpridas.
Incluímos 50 estudos que no total englobam 3704 participantes. Quarenta estudos (81%) foram avaliados como tendo alto risco de viés, nove estudos (18 %) foram avaliados como tendo um risco inconclusivo de viés, e apenas um estudo foi avaliado como tendo baixo risco de viés. Foram usados 34 diferentes sedativos com ou sem óxido nitroso inalável. As dosagens, os métodos de administração e o tempo de administração variaram consideravelmente. Os estudos foram agrupados em estudos de comparação placebo-controlo, comparação de dosagens e comparações diretas. A meta-análise dos dados disponíveis para o desfecho clínico principal (comportamento) foi possível para estudos que investigaram a comparação entre midazolam oral versus placebo. Existe evidência de certeza moderada, proveniente de seis estudos clínicos heterogéneos, que foram avaliados como tendo risco de viés alto ou inconclusivo, que associaram o uso de midazolam oral em doses entre 0,25 mg/kg e 1 mg/kg a um comportamento mais cooperante quando comparado com o uso de placebo; a diferença média padronizada (SMD) favoreceu o midazolam (SMD 1,96, intervalo de confiança (IC) 95%1,59 a 2,33, P < 0,0001, I 2 = 90%; 6 estudos; 202 participantes). Não foi possível obter conclusões acerca dos resultados secundários devido a reporte inconsistente e/ou inadequado dos mesmos.
Traduzido por: Carlota Duarte de Mendonça, Bruno Rosa, Joana Faria Marques, João Silveira e António Mata, Centro de Estudos de Medicina Dentária Baseada na Evidência, Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa, com o apoio da Cochrane Portugal. Revisão final: Ricardo Manuel Delgado, Knowledge Translation Team, Cochrane Portugal.