Porque é esta revisão importante?
Os adultos, crianças e adolescentes a viver em contextos humanitários (tais como no rescaldo de uma crise causada por riscos naturais) em países de baixos e médios rendimentos (em inglês, low- and middle-income countries - LMICs) são expostos a fatores stressores multifacetados que os tornam mais vulneráveis a desenvolver perturbação de stress pós-traumático (PSPT), depressão major e ansiedade, bem como outros outcomes psicológicos negativos.
Quem estará interessado nesta revisão?
Pessoas que estão diretamente expostas a crises humanitárias e as suas famílias e prestadores de cuidados vão estar interessados nesta revisão, tal como os profissionais de saúde e para-profissionais a trabalhar quer em LMICs, quer em contextos de altos rendimentos (em inglês, high-income settings). Adicionalmente, decisores políticos, equipas de programação humanitária, desenvolvedores de guidelines, e agências (tais como organizações não-governamentais (ONGs)) a trabalhar quer em setores de saúde quer em outros setores (p.ex. naqueles que providenciam proteção a populações a viver em cenários humanitários) podem estar interessados nesta revisão.
A que questões pretende esta revisão responder?
Serão as terapias psicológicas mais eficazes do que condições comparadoras de controlo (incluindo nenhum tratamento, tratamento usual, lista de espera, placebo de atenção, e placebo psicológico) na redução de (sintomas de) PSPT e depressão major, perturbação da ansiedade, e perturbações somatoformes e relacionadas (condições nas quais as pessoas apresentam sintomas físicos (p.ex. dor) que não podem ser explicadas medicamente) em pessoas de qualquer idade, sexo ou religião a residir em LMICs afetados por crises humanitárias?
Que estudos foram incluídos nesta revisão?
Os autores da revisão pesquisaram bases de dados até fevereiro de 2016 para localizar e incluir todos os ensaios relevantes publicados e não-publicados. Os estudos tinham que incluir crianças e/ou adultos a residir em LMICs afetados por crises humanitárias. Os estudos também tinham que ser ensaios controlados aleatorizados (ECAs), o que significa que as pessoas tinham alocadas aleatoriamente (ao acaso) para receber o tratamento ou a condição comparadora.
Incluímos 33 ensaios com um total de 3523 participantes que examinaram uma variedade de terapias psicológicas.
O que nos dias a evidência apresentada nesta revisão?
Em adultos, evidência de baixa qualidade mostra um benefício maior de terapias psicológicas do que de comparadores de controlo na redução de (sintomas de) PSPT, depressão major e perturbações da ansiedade. Esta evidência apoia a abordagem de providenciar terapias psicológicas a populações afetadas por crises humanitárias, embora não tenhamos identificado estudos que observassem a eficácia ou aceitabilidade de terapias psicológicas para sintomas depressivos ou do foro ansioso além de seis meses. Apenas uma pequena proporção dos ensaios incluídos reportaram dados acerca de crianças e adolescentes, os quais providenciaram evidência de muito-baixa qualidade de um grande benefício derivado dos tratamentos psicológicos. No que concerne à aceitabilidade, evidência de moderada e baixa qualidade sugere ausência de diferenças nas taxas de abandono em adultos, crianças e adolescentes. Os revisores não encontraram estudos que avaliassem os tratamentos psicológicos para (sintomas de) perturbações somatoformes ou sintomas físicos medicamente inexplicados (MUPS) em adultos, nem em crianças ou adolescentes, respetivamente.
O que deve acontecer a seguir?
Os investigadores deveriam conduzir ensaios de elevada qualidade para avaliar ulteriormente a eficácia de terapias psicológicas administradas ao longo de períodos de tempo mais longos em adultos, crianças e adolescentes. Idealmente, os ensaios deveriam ser randomizados, deveriam usar instrumentos validados e culturalmente apropriados para avaliar outcomes, e deveriam avaliar correlatos das reduções nos efeitos do tratamento ao longo do tempo; adicionalmente, os investigadores deveriam exercer todos os esforços necessários para garantir altas taxas de follow-up além dos 6 meses após a conclusão da terapia.
Traduzido por: Ricardo Manuel Delgado, Serviço de Psiquiatria da Criança e do Adolescente, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, com o apoio da Cochrane Portugal.