Manejo dos criadouros de larvas de mosquito para controle da malária

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O que é o manejo dos criadouros de larvas e como isso pode funcionar?

A malária é uma doença infecciosa transmitida de pessoa para pessoa através da picada de mosquitos. As principais intervenções para evitar a doença procuram evitar que as pessoas sejam picadas por mosquitos adultos, por exemplo cobrindo as camas com redes impregnadas com inseticidas e pulverizando a parte de dentro das casas com sprays que matam os mosquitos adultos. O manejo dos criadouros de larvas (LSM em inglês) é mais uma intervenção que visa evitar a malária, mas ela se concentra na eliminação dos mosquitos imaturos (larvas). As larvas se desenvolvem em água parada até elas se transformarem em mosquitos adultos que saem voando. O LSM é feito evitando o acumulo de água parada. Isso pode ser feito de forma permanente, por exemplo drenando ou preenchendo terrenos onde a água se acumula. Também pode-se fazer mudanças temporárias nos habitats do mosquito para interromper sua criação, por exemplo limpando locais onde a agua se acumula. Também pode-se adicionar produtos químicos, larvicidas biológicos, ou predadores naturais na água parada para matar as larvas.

O que a revisão encontrou?

Buscamos todos os estudos publicados e não publicados até 24 de outubro de 2012, e incluímos 13 estudos nesta revisão.

Existe evidência de qualidade moderada que nos locais onde os habitats das larvas não são muito extensos e é possível atingir uma proporção suficiente destes habitats, o LSM provavelmente reduz o número de pessoas que irão desenvolver a malária e provavelmente reduz a proporção da população infectada com o parasita da malária em qualquer momento,

O LSM demonstrou ser efetivo no Sri Lanka, Índia, Filipinas, Grécia, Quênia e Tanzânia. As intervenções incluíram a adição de larvicida em poços abandonados de minas, córregos, valas de irrigação e arrozais onde os mosquitos se reproduzem, a construção de barragens, a vazão de córregos, e a remoção de recipientes com água próximo das casas das pessoas.

Um estudo feito na Gâmbia, onde os mosquitos reproduzem-se em grandes pântanos e arrozais, concluiu que a pulverização dos pântanos com larvicidas por equipes terrestres não trouxe qualquer benefício.

Conclusão dos autores: 

Na África e na Ásia, o manejo dos criadouros das larvas é mais uma opção para reduzir a morbidade por malária, além da cobertura das camas com redes impregnadas com inseticidas de longa duração e da pulverização residual dos interiores das casas. Isso é válido para áreas urbanas e rurais onde é possível atingir uma proporção suficiente dos habitats das larvas. Mais pesquisas são necessárias para avaliar se o LSM é adequado ou viável nas regiões da África rural onde os habitats das larvas são mais extensos.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

Em muitos lugares do mundo, especialmente na África subsaariana, a malária é uma importante causa de morbidade e mortalidade. A cobertura das camas com redes tratadas com inseticidas de longa duração (LLINs em inglês) e a pulverização residual dos interiores das casas (IRS em inglês) são intervenções focadas nos vetores adultos da malária. Essas intervenções são componentes essenciais dos programas de controle da malária. Porém, também é possível reduzir o número de mosquitos com o manejo dos criadouros de larvas (LSM em inglês). Essa intervenção tem como alvo as larvas do mosquito que estão crescendo nos habitats aquáticos. Esse manejo envolve reduzir, de forma permanente ou temporária, a disponibilidade dos habitats larvais. Isso é feito modificando e manipulando o habitat, ou adicionando à água parada substâncias que matam ou inibem o desenvolvimento das larvas (larvicidas).

Objetivos: 

Avaliar a efetividade do manejo de criadouros de larvas de mosquito (LSM) para a prevenção da malária.

Métodos de busca: 

Realizamos buscas nas bases de dados Cochrane Infectious Diseases Group Specialized Register; Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL); MEDLINE; EMBASE; CABS Abstracts; e LILACS até 24 de outubro de 2012. Realizamos buscas manuais no Tropical Diseases Bulletin de 1900 até 2010, nos arquivos da Organização Mundial da Saúde (até 11 de fevereiro de 2011), e na base de dados de literatura da Armed Forces Pest Management Board (até 2 de março de 2011). Também entramos em contato com especialistas da área para identificar artigos relevantes.

Critério de seleção: 

Incluímos ensaios clínicos randomizados (ECRs) tipo cluster, estudos controlados antes e depois com pelo menos um ano de dados basais, e ECRs cross-over que compararam usar LSM versus não usar LSM para o controle da malária. Excluímos estudos que avaliaram o controle biológico dos mosquitos anofelinos com peixes larvívoros.

Coleta dos dados e análises: 

Pelo menos dois autores avaliaram cada estudo quanto a sua elegibilidade. Extraímos os dados e pelo menos dois autores, trabalhando de forma independente avaliaram o risco de viés dos estudos incluídos. Discutimos todas as divergências com um terceiro autor. Usamos o software Review Manager 5 para analisar os dados.

Principais resultados: 

Incluímos um total de 13 estudos: 4 ECRs clusters, 8 estudos controlados antes e depois, e 1 ECR cross-over. Os estudos incluídos avaliaram modificação do habitat (um estudo), modificação do habitat com larvicidas (dois estudos), manipulação do habitat (um estudo), manipulação do habitat mais larvicidas (dois estudos), ou o uso isolado de larvicidas (sete estudos) em muitos habitats e países.

Incidência de malária

Segundo 2 ECRs cluster realizados no Sri Lanka, o uso de larvicidas em minas abandonadas, riachos, valas de irrigação e arrozais reduziu a incidência de malária em cerca de três quartos em comparação com o controle: RR 0,26 , IC 95% 0,22 a 0,31, 20.124 participantes, 2 estudos, evidência de qualidade moderada). Três estudos controlados antes e depois (realizados em áreas urbanas e rurais da Índia e em área rural do Quênia), tiveram resultados inconsistentes (98.233 participantes, 3 estudos, evidência de qualidade muito baixa). Segundo um estudo realizado em área urbana da Índia, a remoção de recipientes domésticos contendo água, juntamente com a aplicação semanal de larvicidas em canais e poças de água parada, reduziu a incidência de malária em três quartos. Um estudo realizado em área rural da Índia e um estudo realizado em área rural do Quênia, tinham uma maior incidência inicial de malária nas áreas de intervenção do que nos controles. Porém, a construção de uma barragem na Índia, e o uso de larvicidas em córregos e pântanos no Quênia, reduziu a incidência da malária para níveis semelhantes aos das áreas de controle. Em outro ECR cross-over realizado nas planícies inundadas do rio Gâmbia, onde os habitats das larvas eram extensos e mal-delimitados, a aplicação de larvicidas por equipes terrestres não produziu uma redução estatisticamente significativa na incidência de malária (1 estudo, 2039 participantes).

Prevalência do parasita

Em um ECR cluster conduzido no Sri Lanka, o uso de larvicidas reduziu a prevalência de parasitas em quase 90%: RR 0,11; IC 95% 0,05 a 0,22, 2963 participantes, 1 estudo, evidência de qualidade moderada. Segundo 5 estudos controlados antes e depois realizados na Grécia, Índia, Filipinas e Tanzânia, o LSM reduziu em cerca de dois terços a prevalência do parasita: RR 0,32; IC 95% 0,19 a 0,55, 8041 participantes,5 estudos, evidência de qualidade moderada. As intervenções nestes cinco estudos incluíram a construção de barragens para reduzir os habitats das larvas, a vazão dos córregos, a remoção de recipientes domésticos com água e a aplicação de larvicidas. Segundo um ECR cross-over realizado nas planícies inundadas do rio Gâmbia, a aplicação de larvicidas por equipes terrestres não reduziu significativamente a prevalência do parasita (2039 participantes, um estudo).

Notas de tradução: 

Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Aline de Gregori Adami). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br