Mensagens-chave
Os programas de intervenção precoce dados aos bebés prematuros podem melhorar o desenvolvimento mental e físico na infância (zero a três anos) e melhoram o desenvolvimento mental na idade pré-escolar (três a cinco anos).
Há falta de evidência de boa qualidade sobre o desenvolvimento mental e físico em idade escolar (cinco a menos de 18 anos).
A investigação futura nesta área deve centrar-se em apurar se as intervenções no primeiro ano de vida são benéficas à medida que as crianças crescem.
Porque é que os bebés que nascem prematuramente precisam de intervenções?
Os bebés que nascem demasiado cedo (antes das 37 semanas de gravidez) têm maior probabilidade de ter problemas de desenvolvimento, como atrasos nas capacidades de pensamento e aprendizagem (desenvolvimento mental), ou atrasos em sentar-se, andar e/ou utilizar as mãos (desenvolvimento motor).
O que são programas de intervenção precoce?
As intervenções de desenvolvimento precoce visam reduzir os problemas de desenvolvimento mental e motor dos bebés nascidos demasiado cedo, proporcionando atividades que apoiam e melhoram o desenvolvimento. As intervenções podem centrar-se no bebé, na relação pais-bebé ou numa combinação destes aspetos, e podem incluir diferentes formas de terapia física e psicológica, bem como educação.
O que pretendíamos investigar?
Queríamos descobrir se as intervenções precoces no desenvolvimento dos bebés nascidos demasiado cedo melhoravam as suas capacidades mentais e físicas ao longo da infância.
Também queríamos descobrir se diferentes tipos de intervenção eram melhores do que outros. Por exemplo:
- quando a intervenção começou, no hospital ou em casa;
- em que se centrou a intervenção: nos pais, no bebé, na relação pais-bebé ou numa combinação de ambos;
- se o facto de ter uma lesão cerebral influenciava os efeitos da intervenção precoce;
- se a idade e o peso do bebé à nascença influenciavam os efeitos da intervenção precoce.
O que fizemos?
Esta revisão foi uma atualização de uma revisão anterior concluída em 2015.
Procurámos estudos em que os bebés nascidos demasiado cedo (com menos de 37 semanas de idade) foram distribuídos aleatoriamente por um grupo de tratamento que recebeu intervenção precoce no desenvolvimento, ou por um grupo de controlo que recebeu cuidados de acompanhamento padrão, que é o acompanhamento médico típico para bebés prematuros, e onde por vezes havia mais alguma informação sobre os cuidados a ter com os bebés prematuros. A intervenção podia começar enquanto o bebé estava no hospital, mas também tinha de existir uma intervenção que continuasse em casa. O estudo tinha de medir o desenvolvimento mental ou motor dos bebés, ou ambos, após a intervenção, e agrupámos a idade de medição em três grupos: infância (zero a três anos), idade pré-escolar (três a cinco anos) e idade escolar (cinco a menos de 18 anos).
Comparámos e resumimos os resultados dos estudos e classificámos a nossa confiança na evidência com base em fatores como o método de estudo, o número de bebés em cada estudo e quantos foram avaliados após a intervenção.
O que encontrámos?
Descobrimos que os aspetos dos estudos variavam muito no que diz respeito à duração da intervenção, às idades dos bebés no estudo, à duração do acompanhamento e aos aspetos em que a intervenção se centrava.
Esta revisão incluiu 44 estudos que envolveram 5.051 bebés prematuros. Foram incluídos 19 novos estudos nesta atualização e três estudos que incluímos anteriormente tinham novos dados.
Verificámos que a maioria das intervenções se centrava tanto no bebé como na relação pais-bebé.
Também descobrimos que as intervenções de desenvolvimento precoce melhoram o desenvolvimento mental na idade pré-escolar, mas provavelmente não melhoram os resultados motores na idade pré-escolar. Na idade infantil, o nosso estudo mostrou que as intervenções podem melhorar o desenvolvimento mental e físico. No entanto, não beneficiam o desenvolvimento mental e físico em idade escolar.
Quais são as limitações desta evidência?
Houve uma grande variação nos aspetos dos estudos, em particular, a duração das intervenções e a duração de intervenção dada aos bebés. Foram também utilizados vários instrumentos de medição diferentes para medir o desenvolvimento em cada grupo etário, especialmente no que respeita ao desenvolvimento físico. A nossa confiança nos resultados relativos ao acompanhamento em idade escolar é limitada devido à existência de um número reduzido de estudos com dados.
Quão atualizada se encontra esta evidência?
Esta revisão atualiza a nossa revisão anterior de 2015. A evidência encontra-se atualizada até julho de 2023.
Traduzido por: Eduarda Rodrigues Costa, Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental da Infância e da Adolescência, Unidade Local de Saúde Santa Maria. Revisão final: Ricardo Manuel Delgado, Knowledge Translation Team, Cochrane Portugal.