Introdução
As doenças cardiovasculares (DCV) são um grupo de doenças que afetam o coração e vasos sanguíneos. As DCV são um problema global e variam entre diferentes regiões do mundo. Esta variação tem sido associada, em parte, a fatores dietéticos. Tais fatores são importantes porque eles podem ser modificados para ajudar na prevenção e manejo das DCV. Esta revisão avaliou a eficácia da suplementação de vitamina C isoladamente para reduzir o risco de morte causada por problemas cardiovasculares ou por qualquer causa. Também avaliou a eficácia da suplementação de vitamina C para prevenir problemas de saúde como ataque cardíaco, derrame, angina e fatores de risco cardiovascular em adultos saudáveis e em adultos de alto risco para DCV.
Características do estudo
Fizemos buscas em bases de dados científicas para encontrar ensaios clínicos randomizados (estudos onde os participantes são sorteados para dois ou mais grupos de tratamento) que testaram o uso de suplementos de vitamina C por adultos saudáveis ou de alto risco para DCV. Não incluímos pessoas que já tinham DCV (por exemplo, derrame ou infarto). A revisão incluiu todos os estudos publicados até maio de 2016.
Principais resultados
Oito ensaios clínicos preencheram nossos critérios de inclusão. Um grande estudo avaliou os efeitos dos suplementos de vitamina C sobre o risco de as pessoas terem eventos cardiovasculares graves (fatais ou não fatais) e não encontrou nenhum benefício dessa prática. Porém, esse estudo envolveu apenas homens de meia idade ou mais, que moravam nos EUA e que eram médicos. Portanto, não temos certeza se o efeito seria o mesmo em outros grupos de pessoas. Sete estudos avaliaram os efeitos da suplementação de vitamina C sobre os fatores de risco para DCV. Não pudemos combinar os resultados desses estudos porque faltava muita informação. Além disso, havia diferenças quanto ao tipo de participantes incluídos, a dose de vitamina C usada e a duração dos estudos. No geral, a suplementação de vitamina C teve um efeito inconsistente sobre os níveis de gorduras no sangue e sobre a pressão arterial. É necessário fazer mais estudos sobre esse assunto. Quatro dos estudos incluídos não falaram nada sobre fontes de financiamento para a pesquisa. Dois estudos foram patrocinados por fontes não comerciais, e dois estudos receberam apoio financeiro tanto de fontes comerciais (indústrias) como não comerciais.
Qualidade da evidência
A qualidade da evidência é baixa ou muito baixa para eventos cardiovasculares sérios (infarto, derrame, angina e cirurgia coronariana de bypass), morte por qualquer causa e morte por DCV. A qualidade da evidência foi rebaixada porque ela não era aplicável à população geral (os participantes eram todos médicos americanos) e devido ao fato de haver poucos dados sobre vitamina C para a prevenção de DCV.
Na atualidade, não existe evidência sugerindo que a suplementação de vitamina C reduza o risco de DCV em pessoas saudáveis ou naquelas com alto risco para DCV. Porém, a evidência existente é baseada em apenas um ensaio clínico que envolveu somente homens de meia idade ou mais velhos, que eram médicos, e viviam nos EUA. Existe evidência de qualidade baixa ou muito baixa sobre os efeitos da suplementação de vitamina C sobre os fatores de risco para DCV.
A vitamina C é um micronutriente essencial e um potente antioxidante. Vários estudos observacionais mostraram uma relação inversa entre a ingestão de vitamina C e eventos cardiovasculares maiores e fatores de risco para doença cardiovascular (DCV). Os resultados provenientes de ensaios clínicos são menos consistentes.
Avaliar a efetividade da suplementação de vitamina C isolada para a prevenção primária de DCV.
Fizemos buscas nas seguintes bases de dados, em 11 de maio de 2016: the Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL) na Biblioteca Cochrane, MEDLINE (Ovid); Embase Classic e Embase (Ovid); Web of Science Core Collection (Thomson Reuters); Database of Abstracts of Reviews of Effects (DARE); Health Technology Assessment Database e na Health Economics Evaluations Database na Biblioteca Cochrane. Fizemos buscas em plataformas de registros de ensaios clínicos em 13 de abril de 2016. Também analisamos as listas de referências de revisões para identificar mais estudos. Não houve restrição de idiomas.
Incluímos ensaios clínicos randomizados que testaram a suplementação de vitamina C isolada por um período de pelo menos três meses em adultos saudáveis ou com risco moderado a alto de DCV. Os grupos de comparação receberam placebo ou nenhuma intervenção. Os desfechos de interesse foram os eventos clínicos de DCV e os fatores de risco para DCV.
Dois revisores, trabalhando de forma independente, selecionaram os estudos, extraíram os dados e avaliaram o risco de viés.
Incluímos oito estudos, envolvendo um total de 15.445 participantes. O maior estudo tinha 14.641 participantes e apresentava dados sobre nossos desfechos primários. Sete estudos apresentavam dados sobre fatores de risco para DCV. Três dos oito estudos tinham alto risco de viés devido a problemas de relato ou atrito. A maioria dos domínios dos outros estudos tinham risco de viés incerto. O maior estudo tinha baixo risco de viés na maioria dos domínios.
No Physicians Health Study, ao final de oito anos, não houve diferença entre os grupos que receberam vitamina C versus placebo quanto ao risco de eventos cardiovasculares maiores: razão de incidência (HR) 0,99, intervalo de confiança (IC) de 95% 0,89 a 1,10, 1 estudo, 14.641 participantes, evidência de baixa qualidade. Os resultados foram semelhantes para mortalidade por qualquer causa (HR 1,07, IC 95% 0,97 a 1,18, 1 estudo, 14.641 participantes, evidência de qualidade muito baixa), infarto cardíaco fatal ou não fatal (HR 1,04, IC 95% 0,87 a 1,24, 1 estudo, 14.641 participantes, evidência de baixa qualidade), derrame fatal ou não fatal (HR 0,89, IC 95% 0,74 a 1,07, 1 estudo, 14.641 participantes, evidência de baixa qualidade), mortalidade por DCV (HR 1,02, IC 95% 0,85 a 1,22, 1 estudo, 14.641 participantes, evidência de qualidade muito baixa), cirurgia coronariana de bypass/angioplastia coronariana auto-relatada (HR 0,96, IC 95% 0,86 a 1,07, 1 estudo, 14.641 participantes, evidência de baixa qualidade) e angina auto-relatada (HR 0,93, IC 95% 0,84 a 1,03, 1 estudo, 14.641 participantes, evidência de baixa qualidade).
A qualidade da evidência para a maioria dos desfechos foi de baixa qualidade devido à imprecisão e evidência indireta. Para mortalidade por qualquer causa e mortalidade por DCV, a qualidade da evidência foi muito baixa devido a evidência indireta e inconsistência.
Quatro estudos não citavam suas fontes de financiamento, dois relataram ter recebido apoio financeiro de fontes não comerciais e dois declararam ter recebido apoio financeiro de fontes comerciais e não comerciais.
Tradução do Cochrane Brazil (Maria Regina Torloni). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br