Qual foi o objetivo desta revisão?
O objetivo desta Revisão Cochrane foi descobrir se o tratamento de feridas com pressão negativa (NPWT) tem efeito nas complicações, incluindo as infecções das feridas operatórias com encerramento primário (aquelas cujos bordos foram unidos, geralmente usando pontos ou agrafos) e avaliar sua relação custo-benefício. Foram recolhidos e analisados todos os estudos relevantes para responder a esta pergunta e encontraram-se 44 estudos analisando o efeito da NPWT nas complicações do local cirúrgico, e cinco estudos analisando o custo-benefício. Esta é uma nova atualização de uma revisão da Cochrane, que foi atualizada pela última vez em março de 2019.
Mensagens-chave
NPWT provavelmente reduz a incidência de infecção da ferida operatória em feridas cirúrgicas com encerramento primário - esta é uma evidência de certeza moderada e novos estudos podem mudar este achado. Não está claro qual o efeito da NPWT na reabertura da ferida ("deiscência") e no risco de morte - esta é uma evidência de baixa certeza. Os resultados para outras complicações também não mostram uma diferença clara com o tratamento com NPWT. NPWT é provavelmente custo-eficaz no tratamento de feridas por cesariana em mulheres obesas e, provavelmente não é custo-eficaz no tratamento de feridas de cirurgias por fratura. A evidência da custo-eficácia da NPWT em outras feridas cirúrgicas é menos certa.
O que foi estudado na revisão?
Uma complicação potencial da cirurgia é o desenvolvimento de infeção da ferida operatória, que pode ocorrer no local de uma incisão cirúrgica. A incidência desta infeção pode chegar a 40%, com um risco aumentado relacionado com a idade, a dieta, o peso, a diabetes, doenças cardíacas e cancro. Uma infeção da ferida operatória pode causar dor e desconforto, bem como aumentar o tempo de internamento e o custo do tratamento. Pode ocorrer deiscência (separação dos bordos da ferida) se a ferida não cicatrizar. A infecção da ferida e o peso podem aumentar o risco de deiscência.
NPWT consiste num penso da ferida operatória selado que é conectado a uma bomba de vácuo que suga o fluido da ferida. Este mecanismo pode ajudar na cicatrização de feridas e reduzir o risco de infecção.
Surgiu um grande número de novos estudos na última década, com a difusão do uso da NPWT em diferentes tipos de feridas cirúrgicas. Avaliámos o efeito da NPWT no risco de morte, na infeção da ferida operatória e na deiscência.
Quais são os principais resultados da revisão?
Encontramos 44 estudos analisando o uso de NPWT e as complicações do local cirúrgico e 5 estudos analisando a custo-eficácia da NPWT. Foram incluídos nesta revisão 7447 participantes. Uma grande variedade de cirurgias foi incluída, como cirurgias ao joelho e à anca, cesarianas, cirurgias por fraturas ósseas e cirurgias abdominais. A maioria dos participantes estava inscrita na América do Norte, Europa ou Australásia.
A NPWT foi comparada com um penso padrão (por exemplo, gaze) em todos os 44 estudos. Vários sistemas de NPWT foram usados. Apenas quatro estudos relataram risco de morte: pouca diferença foi demonstrada entre NPWT e um penso padrão (evidência de baixa certeza). Reunimos os resultados de infeções da ferida operatória de 31 estudos; a NPWT provavelmente reduz o risco de infeção em comparação com pensos padrão (evidência de certeza moderada). Quatorze estudos com dados sobre deiscência foram combinados; e a evidência de baixa certeza sugere que não há diferença clara entre NPWT e o tratamento padrão.
Na análise de custo-eficácia: dois estudos analisaram mulheres submetidas a cesarianas, um estudo analisou pessoas com fraturas de membros inferiores, um estudo analisou cirurgias da anca e do joelho e outro cirurgias cardíacas. Todos esses estudos usaram informações clínicas de estudos incluídos nesta revisão. Há evidência de certeza moderada de que a NPWT é provavelmente custo-eficaz para feridas operatórias de cesariana em mulheres obesas e provavelmente não é custo-eficaz para feridas de cirurgias por fratura. A evidência da custo-eficácia da NPWT em outras feridas cirúrgicas é de certeza baixa ou muito baixa.
Quão atualizada é esta revisão?
Procurámos todos os estudos publicados até Junho de 2019.
Traduzido por: Mariana Morgado, Cirurgiã Pediátrica, Centro Hospitalar de Lisboa Norte, Lisboa, Portugal. Com o apoio da Cochrane Portugal.