As terapias psicológicas são eficazes na redução da depressão em idosos que vivem em unidades de cuidados prolongados?

Mensagens-chave

- As terapias psicológicas (por vezes conhecidas como terapias através da palavra) podem tratar os sintomas da depressão melhor do que as abordagens sem terapia em idosos que vivem em unidades de cuidados prolongados (por exemplo, lares de idosos ou residenciais e instalações de vida assistida).

- As terapias psicológicas também podem ser melhores do que as abordagens sem terapia para aumentar a qualidade de vida e o bem-estar psicológico (a saúde emocional e o funcionamento geral de um indivíduo) a curto prazo.

- Devido à insuficiência de evidência científica, os benefícios mais alargados das terapias psicológicas e os efeitos a longo prazo não são claros.

O que queríamos investigar?

Pretendíamos saber se as terapias psicológicas eram benéficas para gerir a depressão em ambientes de UCP.

Porque é que isto é importante?

A depressão é comum entre os idosos que vivem em UCP. É frequentemente prescrita medicação para controlar a depressão nesta população. As terapias psicológicas podem ser uma alternativa viável.

Que terapias psicológicas podem ser utilizadas para tratar a depressão nas pessoas idosas?

As terapias psicológicas para tratar a depressão em pessoas que vivem em UCP incluem a terapia comportamental, a terapia cognitivo-comportamental e a terapia de reminiscência.

O que foi feito?

Procurámos estudos que comparassem terapias psicológicas com abordagens de cuidados alternativas para idosos com depressão que vivem em instituições de cuidados prolongados. Examinámos os resultados após a conclusão da terapia e no seguimento a curto prazo (até três meses), a médio prazo (três a seis meses) e a longo prazo (mais de seis meses).

Comparámos e resumimos os resultados dos estudos e classificámos a nossa confiança na evidência com base em fatores como a metodologia e o tamanho dos estudos.

O que encontrámos?

Encontrámos 19 estudos com 873 participantes com depressão. A maioria dos estudos comparou a terapia cognitivo-comportamental, a terapia comportamental ou a terapia de reminiscência com os serviços de cuidados habituais ou com uma condição que proporcionava aos residentes um nível de atenção semelhante (por exemplo, visitas amigáveis de voluntários ou grupos de discussão sobre a atualidade).

Descobrimos que as terapias psicológicas podem ser melhores na redução dos sintomas de depressão do que outras abordagens, imediatamente após a terapia e até seis meses. Este efeito não foi tão evidente nos estudos em que as terapias psicológicas foram comparadas com uma condição em que as pessoas idosas recebiam maior atenção nos cuidados de saúde prolongados.

As terapias psicológicas podem também melhorar a qualidade de vida e o bem-estar psicológico dos idosos até três meses após a terapia, mas não encontrámos evidência de que as terapias psicológicas reduzam os sintomas de ansiedade em idosos com depressão.

Quais são as limitações da evidência?

A nossa confiança na evidência é muito limitada porque a maioria dos estudos incluiu um pequeno número de participantes e utilizou métodos pouco fiáveis.

Dado o envelhecimento da população e o aumento previsto do número de idosos que necessitam de cuidados prolongados, é urgente realizar ensaios clínicos de elevada qualidade sobre a eficácia dos tratamentos para a depressão.

Quão atualizada se encontra esta evidência?

A pesquisa bibliográfica foi concluída em outubro de 2021.

Conclusões dos autores: 

Esta revisão sistemática sugere que a terapia cognitivo-comportamental, a terapia comportamental e a terapia da reminiscência podem reduzir os sintomas depressivos em comparação com os cuidados habituais para os residentes de UCP, mas a evidência é muito dúbia. As terapias psicológicas podem também melhorar a qualidade de vida e o bem-estar psicológico dos residentes deprimidos em UCP a curto prazo, mas podem não ter qualquer efeito nos sintomas de ansiedade dos residentes deprimidos em UCP, em comparação com as condições de controlo. No entanto, as provas destes efeitos são muito incertas, o que limita a nossa confiança nos resultados.

A evidência poderia ser reforçada através de uma melhor informação e de ECAs de maior qualidade sobre terapias psicológicas em UCP, incluindo ensaios com amostras maiores, relatando os resultados separadamente para aqueles com e sem défice cognitivo e demência, e resultados a longo prazo de modo a estudar a atenuação dos efeitos.

Leia o resumo na íntegra...
Contexto: 

A depressão é comum entre os idosos que residem em unidades de cuidados prolongados (UCP). Atualmente, a maioria dos residentes tratados para perturbações depressivas recebe prescrição de medicamentos antidepressivos, apesar da potencial disponibilidade de terapias psicológicas adequadas a idosos e da preferência de muitos destes doentes por abordagens não farmacológicas.

Objetivos: 

Avaliar o efeito das terapias psicológicas para o tratamento de perturbações depressivas em idosos que vivem em instituições de cuidados prolongados, em comparação com o tratamento habitual, o controlo em lista de espera e o controlo atencional não específico; e comparar a eficácia de diferentes tipos de terapias psicológicas neste contexto.

Métodos de pesquisa: 

Realizámos a nossa pesquisa a partir do Registo de Ensaios Controlados do Grupo de Perturbações Mentais Comuns da Cochrane, CENTRAL, MEDLINE, Embase, cinco outras bases de dados, cinco fontes de literatura cinzenta e dois registos de ensaios. Efetuámos verificação das referências e a pesquisa de citações, e contactámos os autores dos estudos para identificar estudos adicionais. A última pesquisa foi efetuada em 31 de outubro de 2021.

Critérios de seleção: 

Incluímos ensaios controlados aleatorizados (ECAs) e ECAs em cluster de qualquer tipo de terapia psicológica para o tratamento da depressão em adultos com 65 anos ou mais a residir numa unidade de cuidados prolongados.

Coleção e análise dos dados: 

Dois dos autores da revisão realizaram uma seleção independente dos títulos/resumos e dos manuscritos de texto completo para inclusão. Dois autores da revisão realizaram, de forma independente, a extração de dados e a avaliação do risco de viés utilizando a ferramenta Cochrane RoB 1. Quando necessário, entrámos em contato com os autores dos estudos em causa para obter informações adicionais.

Os resultados primários foram o nível de sintomatologia depressiva e a não aceitabilidade do tratamento; os resultados secundários incluíram a remissão da depressão, a qualidade de vida ou o bem-estar psicológico e o nível de sintomatologia ansiosa. Utilizámos o Review Manager 5 para realizar meta-análises, utilizando modelos de efeitos aleatórios em pares. Para os dados contínuos, calculámos diferenças das médias padronizadas e intervalos de confiança (IC) a 95%, utilizando os dados dos parâmetros, e para os dados dicotómicos, utilizámos as odds ratios e os IC a 95%. Utilizamos o GRADE para avaliar a certeza da evidência.

Principais resultados: 

Incluímos 19 ECAs com 873 participantes; 16 ECAs de grupos paralelos e três ECAs em cluster. A maioria dos estudos comparou a terapia psicológica (normalmente incluindo elementos de terapia cognitivo-comportamental, terapia comportamental, terapia de reminiscência ou uma combinação destas) com o tratamento habitual ou com uma condição de controlo para os efeitos da atenção.

Encontrámos evidência de qualidade muito baixa de que as terapias psicológicas foram mais eficazes do que as condições de controlo sem terapia na redução dos sintomas de depressão, com um grande tamanho de efeito no final da intervenção (DMP -1,04, IC 95% -1,49 a -0,58; 18 ECAs, 644 participantes) e no seguimento a curto prazo (até três meses) (DMP -1,03, IC 95% -1,49 a -0,56; 16 ECAs, 512 participantes). Além disso, encontrámos evidência de grau de certeza muito baixo, proveniente de um único estudo com 82 participantes, de que a terapia psicológica estava associada a uma maior redução do número de participantes que apresentavam perturbação depressiva major, em comparação com o tratamento habitual, no final da intervenção e no seguimento a curto prazo. No entanto, tendo em conta os dados limitados sobre o efeito das terapias psicológicas na remissão da perturbação depressiva major, aconselha-se cautela na interpretação deste resultado.

Os participantes que receberam terapia psicológica tiveram maior probabilidade de abandonar o ensaio do que os participantes que receberam um controlo sem terapia (odds ratio 3,44, IC 95% 1,19 a 9,93), o que pode indicar uma maior resistência ao tratamento. No entanto, as análises foram limitadas devido aos dados reduzidos por abandono e à imprecisão dos relatórios, pelo que os resultados devem ser interpretados com cautela.

Existe evidência de qualidade muito baixa de que a terapia psicológica foi mais eficaz do que as condições de controlo sem terapia para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar psicológico no seguimento a curto prazo, com um tamanho de efeito médio (DMP 0,51, IC 95% 0,19 a 0,82; 5 ECAs, 170 participantes), mas o tamanho do efeito foi pequeno no pós-intervenção (DMP 0,40, IC 95% -0,02 a 0,82; 6 ECAs, 195 participantes). Existe evidência de qualidade muito baixa de que a terapia psicológica não tem efeito sobre os sintomas de ansiedade após a intervenção (DMP -0,68, IC 95% -2,50 a 1,14; 2 ECAs, 115 participantes), embora os resultados não sejam precisos e não haja dados suficientes para determinar os resultados a curto prazo.

Notas de tradução: 

Traduzido por: Ana Monteiro Fernandes, Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental, Unidade Local de Saúde Santa Maria. Revisão final: Ricardo Manuel Delgado, Knowledge Translation Team, Cochrane Portugal.

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